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Natura Musical e Governo da Bahia apresentam: “Giramundo”, novo single de Ventura Profana

Genilson Coutinho,
10/03/2025 | 23h03
Capa – Crédito: Lucas Cordeiro e Ventura Profana

A cantora, compositora e pastora missionária Ventura Profana (Natura Musical) anuncia o lançamento de “Giramundo”, novo single que estará disponível em todas as plataformas no próximo dia 7 de março. Com colaboração de Beá Ayòólaá na composição, o mestre Gabi Guedes, um dos percussionistas mais importantes do mundo, criado no Alto do Gantois e com mais de 50 anos de estrada, é o responsável pelas percussões de Giramundo.
 

“Giramundo” é uma ode às danças do tempo, uma prece à mudança, um louvor às transformações. A faixa é marcada pela paciência e perseverança. Conduzida pelo toque do Igbin, Giramundo é forte na celebração do poder do tempo, e busca resplandecer a inevitabilidade dos processos de criação da vida, da arte e do axé.
 

“Não acredito em fins, tudo está sempre recomeçando. Para mim, a vida é como o oceano, nenhuma água se acaba, elas passam, tomam novos rumos, caminham por outras estradas, são tocadas pelo sol e em algum ponto, também correm pelas profundezas abissais. O que se compõe nas decomposições? Absolutamente tudo. Minha infância não se acabou na chegada da adolescência, nem agora enquanto estou adulta, sou o acúmulo de todos esses tempos, já estão vivos e acesos em mim todos os outros instantes que viverei. Sou o ponto de encontro, o centro dessa roda e todas as suas ramificações, a soma desses caminhos infinitos”.

“Giramundo” faz parte do novo álbum de Ventura Profana, que será lançado em 2025, com produção de Eloá Souto em parceria com a Giro Planejamento Cultural. O projeto tem patrocínio do Natura Musical (por meio da seleção em edital) e do Governo do Estado da Bahia, através do Fazcultura, Secretaria de Cultura e Secretaria da Fazenda. Dentre os projetos do estado também selecionados pelo Natura Musical estão DecoloniSate, Festival da Diversidade: Paulilo Paredão, Festival Frequências Preciosas, Gabi Guedes e Sued Nunes. No Estado, a plataforma já ofereceu recursos para mais de 80 projetos de música até 2022, em diferentes formatos e estágios de carreira, como Margareth Menezes, Luedji Luna, Mateus Aleluia, Mahal Pita e Casa do Hip Hop da Bahia.
 

“Faço canções para não adoecer. Esse single não está separado de todos os que lancei anteriormente ou dos que ainda virão. Meu objetivo é produzir uma obra que esteja integrada, todas as músicas nascidas de mim, são fruto de uma ambição de transformação coletiva nos âmbitos político, social, ambiental e sobretudo espiritual”.
 Ouça

Ficha Técnica

Composição e interpretação – Ventura Profana

Produção Executiva – Eloá Souto

Produção – Gabriela Rocha – Giro Planejamento Cultural

Produção Musical e Arranjo – Jordi Amorim

Direção Musical – Jordi Amorim e Beá Ayòólaá

Direção Vocal – Claudia Elizeu

Masterização – Diogo Sarcinelli

Teclado – Caio Ferreira

Guitarra e Violões – Jordi Amorim

Percussão – Gabi Guedes

Distribuição – Altafonte

Sobre a artista

Filha das entranhas misteriosas da mãe Bahia, onde artérias de águas vivas sustentam em fé, abunda. Ventura Profana profetiza multiplicação e abundante vida negra, indígena e travesti. Rompe a bruma: erótica, atômica, tomando vermelho como religião. Doutrinada em templos batistas, é pastora missionária, cantora evangelista, escritora, compositora e artista visual, cuja prática está enraizada na pesquisa das implicações e metodologias do evangelicalismo no Brasil e no exterior, através da difusão das igrejas neopentecostais. O óleo de margaridas, jibóias e reginas desce possante pelas veredas até inunda-la em desejo: unção. Louva, como o cravar de um punhal lambido de cerol e ferrugem em corações fariseus.
 

Ventura Profana é uma artista com práticas diversas, profeta gloriosa, pastora em sua função divinal. Ao produzir músicas, videoclipes, colagens digitais, instalações e fotografias, cria visualidades e performances de vida que edificam novos imaginários sobre religião e fé. Nesses imaginários, as existências que fogem aos controles tradicionais de gênero e de sexualidade são possíveis. As existências às quais a artista se refere são as travestilidades, guardiãs das fontes da vida, das florestas e dos mangues, aquelas que se fazem vivas em meio ao mar Morto, que são como os montes de Sião que não se abalam, guardiãs de ecossistemas e da vida sagrada. Em seu trabalho é possível reconhecer as corporalidades dissidentes como ponto de torção entre uma tradição inflexível e a criação de outras perspectivas emancipatórias. Em outras palavras, sua produção elabora modos de epistemologia crítica aos sistemas de verdades e crenças conservadoras e coloniais.
 

Para isso, Profana realiza inversões e inserções nos recursos linguísticos, visuais e performáticos neopentecostais herdados do contexto familiar. Entre algumas de suas intervenções na ordem do discurso, ao substituir Senhor pela travesti, a artista coloca esse modo de existência como elemento central e disruptivo do pensamento tradicional, elaborando um discurso sem Senhor, tecendo tanto uma crítica aos dogmas neopentecostais, quanto antipatriarcal, quanto antimilitarista. Assim, é possível reconhecer que a produção de Ventura Profana clama por vida em abundância, ela mesma o corpo missionário que profetiza e louva por saúde, amor e liberdade para todas as travestis. No limite, sua produção artística amplia a percepção de que, ao fundar um mundo no qual a vida travesti é possível, todas as vidas serão possíveis, imersas em poder e glória.