Março Azul reforça importância do diagnóstico precoce e de mudanças no estilo de vida para prevenção e combate do câncer colorretal
O município-arquipélago baiano de Cairu, localizado no Baixo Sul do estado, a 170 km de Salvador, foi escolhido pelos organizadores da campanha nacional Março Azul para realização de um grande mutirão de colonoscopia nos dias 8 a 11 de março. Os habitantes que apresentaram sangue oculto positivo nas fezes durante o extenso rastreamento recentemente realizado no local serão submetidos ao exame de imagem. Os pacientes diagnosticados com câncer colorretal serão encaminhados para tratamento cirúrgico ou quimioterápico no Hospital Geral Roberto Santos, em Salvador. A iniciativa é da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED), Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) e Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), com apoio da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA) e da Sociedade de Anestesiologia do Estado da Bahia (SAEB).
Além da realização de mutirões e ações de conscientização, a Campanha Março Azul vai iluminar vários monumentos em todo o país a fim de chamar a atenção da população sobre as formas de prevenção e combate a este tipo de tumor. Segundo tipo de câncer que mais mata homens e mulheres e terceiro entre os mais frequentes no Brasil, sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de intestino, também chamado câncer de cólon e reto ou câncer colorretal, reúne indicadores que preocupam os especialistas. A estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) é de 45.630 novos casos da doença no país para cada ano do triênio de 2023 a 2025.
De acordo com o coloproctologista Ramon Mendes, a incidência do câncer colorretal tem aumentado de forma significativa nos últimos anos principalmente pelo diagnóstico mais precoce, facilitado pelas consultas com coloproctologistas e exames mais frequentes. A Sociedade Brasileira de Coloproctologia recomenda a realização de exame de colonoscopia a partir dos 45 anos em pacientes assintomáticos com objetivo de rastreamento e prevenção da doença. Se o paciente apresentar sintomas antes dessa idade, a realização do exame deve ser antecipada.
“Como as mulheres costumam se cuidar mais de forma preventiva, a descoberta da doença em estágio inicial nelas é mais frequente do que nos homens. Quanto antes o tumor é descoberto e tratado, maiores são as chances de cura”, destacou o chefe do serviço de coloproctologia do Hospital Santa Izabel, preceptor da residência do coloproctologia do Hospital Geral Roberto Santos e diretor do núcleo de coloproctologia do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica (IBCR).
Sintomas – O câncer colorretal pode não apresentar qualquer manifestação clínica, mas diante de qualquer sinal de alerta, um coloproctologista ou um gastroenterologista deve ser consultado. Os mais comuns são diarreia ou constipação; presença de sangue nas fezes; sensação de que o intestino não está completamente esvaziado; dor abdominal tipo cólica; sensação de inchaço abdominal; cansaço e fadiga; perda de peso sem motivo específico e presença de massa palpável no abdômen. A pesquisa de sangue oculto nas fezes pode ser o primeiro passo para investigação da doença, mas a colonoscopia e a biópsia, quando há suspeita, são determinantes para fechar o diagnóstico.
Os principais fatores de risco são o consumo excessivo de alimentos industrializados e pobres em fibras; ingerir muita carne vermelha, gorduras e bebidas alcoólicas; fumar; ter vida sedentária; estar acima do peso; ter histórico familiar ou pessoal de câncer e mais de 45 anos de idade. “A melhor forma de prevenir o tumor de intestino, sem dúvida, é a mudança do estilo de vida, através da adoção de hábitos mais saudáveis”, afirmou Ramon Mendes. Ainda segundo o coloproctologista, manter consultas e exames de rotina em dia também é fundamental porque “alguns pólipos ou tumores que podem ser visualizados na colonoscopia podem ser removidos antes de se transformarem em câncer”, completou.
Tratamento – O tratamento para o câncer colorretal é inicialmente cirúrgico. A operação é feita para retirar a parte afetada do intestino, assim como os gânglios linfáticos presentes no abdômen. A cirurgia pode ser aberta (convencional), videopararoscópica ou robótica. Quando auxiliado por robô, o procedimento torna-se mais preciso e seguro, sobretudo pela visão aumentada e em três dimensões (3D) e pela possibilidade de injetar na veia do paciente uma solução que tem propriedade de corar os gânglios linfáticos, permitindo um melhor clareamento das áreas tumorais.
“A cirurgia robótica é preferencialmente indicada para tumores localizados no reto e em pessoas com sobrepeso ou obesas, ou seja, em situações onde a videolaparoscopia se torna mais difícil. Com relação ao estágio da doença, temos ampliado o uso do robô mesmo para os tumores localmente avançados”, explicou Ramon Mendes. Em alguns casos, a radioterapia, associada ou não à quimioterapia, pode ser indicada para diminuir a possibilidade de retorno da doença. Tudo depende da extensão, do tamanho e da localização do tumor, assim como das condições gerais de saúde do paciente. Quando há metástase, as chances de cura são reduzidas, mas as terapias existentes podem oferecer longos períodos de sobrevida ao paciente e até mesmo a cura, dependendo do quadro.