Já faz um mês que Pabllo Vittar está na correria. Desde o lançamento de seu primeiro disco solo, Vai passar mal, no começo de janeiro, a cantora de 22 anos tem vivido “simultaneamente” em São Paulo, Rio de Janeiro e Uberlândia, dividida entre shows, entrevistas, gravações do programa Amor & Sexo e a família. A razão da correria é boa: apenas uma semana após o lançamento, Vai passar mal já era o terceiro álbum mais baixado do iTunes e nove de suas 10 músicas estavam na lista das 50 mais tocadas do Spotify. Mas foi entre uma ponte aérea e outra, em uma conversa com a Trip, que a drag mostrou uma Pabllo para além da diva que domina a arte de fazer carão.
Depois da primeira vez que se montou, aos 17 – “fui na farmácia, comprei um lápis, um batom e umas extensões tão baratas que acabaram virando um dread só” – Pabllo não parou mais, e sua fiel apoiadora e escudeira foi a mãe. Talvez por isso Pabllo tenha compreendido desde cedo a importância política de sua existência e de se aceitar enquanto afeminado, como gosta de se definir. “É muito revolucionário no sentido de dar a cara a tapa. São as ‘bis’ afeminadas que estão na posição de frente, que são apontadas, que levam lâmpada na cara. A gente tem que apoiar mesmo e levantar essa bandeira. Se hoje estou dando uma entrevista montada de drag, é porque muita gente morreu e sofreu preconceito para que eu ocupasse esse espaço.”
Pabllo tenta retribuir o carinho que recebe dos fãs (os “vittarlovers”) e por isso faz questão de ajudar todos aqueles que estão começando na vida drag e a procuram para tirar dúvidas. Alguns, inclusive, se montam pela primeira vez para ir aos seus shows. “Pra que estar aqui toda emperiquetada se não vou poder ajudar a mana que está começando como eu comecei também?”, diz. Por outro lado, como qualquer pessoa sob a luz dos holofotes, Pabllo tem seus haters, muitos dos quais têm como alvo “gongar” sua voz. “Crítica negativa sempre teve, bem antes de estourar com álbum. Por isso só aceito uma opinião quando ela é construtiva. Quando vem como um shade, no posicionamento de ferir, eu acho tão ridículo.”
Bem antes do lançamento do álbum mesmo: desde quando ela era apenas Pabllo, o menino nascido em São Luís do Maranhão. “Sofri muito no colégio por ter essa voz fininha”, lembra. “Uma vez, estava na fila da merenda conversando com uma amiga e um menino virou um prato de sopa quente na minha cara. Na cabeça dele, eu tinha que agir como um homem, falar com voz de homem, ser homem.” O acontecimento marcou – e trouxe força. “Por isso digo que sou afeminada com muito orgulho, sou gay sim, sou viado e sou feliz. E obrigada menino que jogou a sopa em mim. Fez um pilling babado, minha pele tá linda.”
Três semanas após o lançamento, o single “Todo dia” está com mais de 2,5 milhões de visualizações no YouTube. “O ‘ser vadia’ da música é sobre ser você, fazer o que você quer mesmo quando te julgam.” Já é um dos hits desse carnaval. Sorte a nossa.
Matéria especial da revista Trip