De acordo com relatório publicado, no início desse mês, pela Organização Mundial de Saúde, a infertilidade é uma condição que afeta uma a cada seis pessoas adultas em todo mundo, o que equivale a cerca de 17,5% da população adulta global. Para essa fatia da população, o sonho de ter filhos pode não ser realizado de maneira espontânea.
Caracterizada pela ausência de gravidez em um casal com vida sexual ativa e que não usa medidas anticonceptivas por um período de um ou mais anos, a infertilidade desperta muitas dúvidas e ainda é encarada como um tabu por boa parte dos homens. “A informação é uma grande aliada das pessoas que querem ter filhos, os hábitos saudáveis contribuem para a saúde reprodutiva e é importante considerar as consultas de rotina com o ginecologista ou urologista e os exames anuais como forma de prevenção também”, esclarece a ginecologista Gérsia Viana, especialista em medicina reprodutiva. A médica é diretora do Cenafert – Centro de Medicina Reprodutiva, que faz parte do Grupo Huntington, um dos principais Grupos de Reprodução Assistida da América Latina.
Segundo Gérsia Viana, praticar atividade física regularmente, controlar o estresse e a ansiedade, ter uma alimentação equilibrada, manter uma vida sexual saudável com uma frequência média de três relações por semana, saber o período fértil, dormir bem e evitar o consumo excessivo de bebidas alcoólicas são algumas das medidas que podem aumentar as chances de uma gravidez natural. “Manter-se no peso adequado, não fumar e praticar sexo seguro também podem fazer a diferença”, destaca a médica. “A obesidade, o tabagismo e as Infecções Sexualmente Transmissíveis podem comprometer a fertilidade nos dois sexos”, conclui.
Confira algumas dúvidas frequentes com relação à infertilidade, esclarecidas pela ginecologista Gérsia Viana.
1) A mulher é a principal responsável pela infertilidade do casal?
Mito. A responsabilidade pela gravidez deve ser compartilhada igualmente pelos dois sexos. De acordo com a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), estima-se que cerca de 35% dos casos de infertilidade podem ser atribuídos à mulher, outros 35% são de responsabilidade do homem, 20% estão relacionados a ambos e 10% são de causas desconhecidas. “Quando um casal não está conseguindo ter filhos naturalmente, a investigação da infertilidade deve ser realizada sempre pelos dois sexos. A condição reprodutiva de cada um deve ser avaliada pelo especialista para que se tenha um diagnóstico preciso das causas da infertilidade e assim seja indicado o tratamento mais adequado”, esclarece Gérsia Viana.
2) O cigarro pode causar infertilidade?
Verdade. O tabagismo é considerado um dos grandes vilões da fertilidade humana, mas isso não significa que todo fumante vai ter problemas de infertilidade. De acordo com o INCA, mulheres que fumam antes da gravidez têm duas vezes mais probabilidade de atraso na concepção e, aproximadamente, 30% mais chances de serem inférteis. As mulheres fumantes também podem ter uma gravidez de alto risco, com má formação placentária, abortamento, descolamento prematuro da placenta, hemorragias uterinas, trombose venosa profunda e risco de morte. Para o bebê, há o risco de nascimento prematuro e com baixo peso. Recém-nascidos de mães fumantes também têm uma incidência maior de malformações congênitas, retardo e outros problemas.
No caso dos homens, os danos causados pelo cigarro vão desde a disfunção erétil (impotência) até o comprometimento da fertilidade, uma vez que a nicotina pode comprometer a qualidade e motilidade dos espermatozoides.
3) Tratamentos oncológicos podem causar infertilidade?
Verdade. Alguns tratamentos para câncer podem causar infertilidade temporária ou irreversível. Antes de iniciar um tratamento de câncer é recomendável que o paciente e seu médico avaliem, de forma criteriosa, a necessidade e a possibilidade de preservar sua fertilidade através das técnicas de congelamento de óvulos e de sêmen.
4) A obesidade e o sobrepeso podem comprometer a fertilidade do homem e da mulher?
Verdade. No caso das mulheres, o excesso de gordura no organismo causa um desequilíbrio hormonal, interferindo na ovulação e diminuindo as chances de engravidar naturalmente. A obesidade também aumenta, consideravelmente, os riscos da gravidez, inclusive aumentando o índice de abortos e de partos prematuros. No caso dos homens, a obesidade também pode afetar a quantidade e a qualidade dos espermatozoides.
5) A idade é um dos fatores da fertilidade?
Verdade. Segundo a médica Gérsia Viana, o relógio biológico é uma das principais causas da infertilidade no sexo feminino. Hoje boa parte das mulheres começam a planejar sua gravidez após os 35 anos, justamente na idade em que a fertilidade feminina entra em declínio e quando as chances de uma gravidez espontânea caem consideravelmente. A qualidade e quantidade dos óvulos diminuem progressivamente ao longo da vida até a menopausa, quando a mulher para de ovular e encerra sua vida fértil.
6) Para engravidar, um casal deve ter relações diariamente?
Mito. Para aumentar as chances de uma gravidez espontânea, os casais precisam ter uma vida sexual ativa, com frequência regular de relações, inclusive fora do período fértil. “O ideal é que o casal mantenha uma vida sexual saudável com uma frequência média de três relações por semana”, afirma a médica.
7) As Infecções Sexualmente Transmissíveis podem causar infertilidade?
Verdade. As Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s) podem causar danos sérios no aparelho reprodutor dos homens e das mulheres e são causas frequentes de infertilidade nos dois sexos. Usar preservativo nas relações sexuais, realizar os exames de rotina e evitar comportamentos sexuais de risco são cuidados para evitar essas infecções que podem comprometer a fertilidade e causar outros danos à saúde. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 25% dos casos de infertilidade são causados pelas Infecções Sexualmente Transmissíveis.
8) Homens vasectomizados e mulheres que fizeram a laqueadura de trompas não podem ter mais filhos?
Mito. Eles não podem ter mais filhos espontaneamente, mas nos dois casos é possível recorrer à reprodução assistida, através da técnica de Fertilização in Vitro, para conseguir ter filhos. Também é possível reverter cirurgicamente a vasectomia e a laqueadura, no entanto, as chances de gravidez espontânea após a reversão nem sempre são boas.