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Genilson Coutinho, nosso artivista

Genilson Coutinho,
14/06/2023 | 23h06

Artivismo, o novo ensaio do crítico de arte contemporânea, o italiano Vincenzo Trione, tem por subtítulo arte, política e compromisso, que muito bem resume os três pilares em torno dos quais gira este conceito. “Artivismo” é um termo relativamente recente e muito eficaz, pois combina linguisticamente dois macrotemas inextricavelmente ligados: arte e política.

Cunhado por artistas, ativistas e criativos, os projetos Artivistas têm um propósito social bem definido – usando diferentes linguagens e mídias, se colocam diante de algumas emergências de nosso tempo para dar suporte as comunidades marginalizadas. Aqui nos situamos na antípoda do pensamento oitocentista da “art pour l’art” (arte pela arte) segundo o qual a arte não deveria ter finalidades morais ou sociais, mas apenas ser um fim em si mesmo.
Diametralmente oposta, a arte do nosso tempo é uma importante forma de dissenso e um instrumento eficaz de protesto. É beleza e representação, mas é também e acima de tudo responsabilidade. 

Genilson Coutinho é um digno protagonista do artivismo; ele atua num contexto social desafiador – a comunidade LGBTQIAPN+. Fundador do site Dois Terços, veículo de notícias LGBTQIAPN+ e membro da equipe multidisciplinar do Centro de Promoção e Defesa dos Direitos da comunidade LGBT, Genilson Coutinho atua em múltiplos espaços de defesa dos direitos da população LGBTQIAPN+, direitos humanos, igualdade de gênero, reivindicações de minorias políticas.

Genilson se posiciona na sociedade através da sua própria sensibilidade política, num protagonismo em estreita consonância com os movimentos de ativismo social e político.

Sua mais nova proposta é a exposição “Até Quando?”, que denuncia a letalidade contra a população LGBTQIAPN+ no nosso país. A mostra teve abertura solene em 17 de maio, Dia Internacional da Luta Contra a LGBTfobia, no Museu de Arte da Bahia, no Corredor da Vitória, em Salvador. A forma interrogativa no nome da exposição é um questionamento repetido por milhares de pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ a cada notícia sobre os diversos casos de violência contra esta comunidade.

O Brasil continua a liderar o ranking dos países que mais matam LGBTQIAPNs+ no mundo. Segundo pesquisa do Grupo Gay da Bahia (GGB), 256 lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros foram vítimas de morte violenta em 2022. Vergonhosa média de uma morte a cada 34 horas.

Entre as vítimas, 52% eram gays e 43% travestis ou transexuais. Mais da metade dos crimes foram cometidos por armas de fogo ou brancas. Também há casos de asfixia, espancamento, apedrejamento, esquartejamento e atropelamento proposital.

A exposição de Genilson Coutinho provoca uma reflexão e questionamento da sociedade, instada a se posicionar ante infinitas tristes relatos de assassinatos de pessoas, destruição de lares, sonhos e histórias promissoras. Tudo pelo simples fato de não se respeitar o direito e felicidade de cada pessoa em ser o que é.

Cada uma das belas imagens captadas pelo artivista Genilson expressa a história de vidas abruptamente interrompidas pela LGBTfobia. Desde o mais longínquo caso de homofobia documentado no Brasil, em 1614 – a execução do indígena Tibira do Maranhão; passando pelo assassinato do estudante Itamar Ferreira, na fonte da Praça do Campo Grande; o assassinato da artista transformista Andressa Larmac nas proximidades da Estação da Lapa; a morte de Teu Nascimento dentro da sua casa no bairro de Cajazeiras, na periferia de Salvador; a execução do jovem ativista Alex Fraga, em Lauro de Freitas e o assassinato do casal de mulheres lésbicas, em Camaçari. A exposição leva-nos a acompanhar os itinerários de vida, história familiar e dores causadas pelas violências letais que ferem a nossa sociedade como um todo.

A LGBTfobia atinge principalmente pessoas transexuais e travestis, que têm uma estimativa de vida de 35 anos. Em 15 de fevereiro de 2017, a travesti Dandara Kettley, depois de sofrer violentas agressões, foi levada em um carro de mão, e finalmente  brutalmente assassinada com um disparo de arma de fogo, no Bom Jardim, bairro de Fortaleza, no Ceará. Tal barbárie transformou Dandara numa das vítimas de transfobia mais conhecidas no mundo.

Sob a curadoria de Leandro Colling, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) a mostra de Genilson Coutinho expõe, de modo emblemático, 13 fotografias, num alerta para o Brasil que há 13 anos se mantém na lista do país que mais mata pessoas trans e travestis em todo o mundo.

Ainda segundo aquela pesquisa do GGB, o Nordeste é a região mais perigosa para pessoas LGBTQIAPN+, concentrando 43,36% das mortes violentas. Dentre as dez primeiras cidades com mais casos de mortes violentas de LGBTQIAPN+ em números absolutos, cinco estão no Nordeste: Salvador, São Luís, Fortaleza, Recife e Arapiraca (AL).
A Bahia aparece no topo do ranking, com 10,5% das mortes violentas de pessoas LGBTQIAPN+.

É urgente a adoção de políticas públicas que garantam a cidadania plena da população LGBTQIAPN+ e um basta à letalidade que atinge tão direta e profundamente esta população. A sociedade precisa reagir, denunciar e coibir toda forma de discriminação e violência contra este público.

A exposição de Genilson Coutinho conta com o apoio do Centro de Promoção e Defesa dos Direitos LGBT da Bahia (CPDD-LGBT), Shopping Bela Vista, Museu de Arte da Bahia, Rei do Mosaico, Objetiva e site Dois Terços. A visitação é gratuita e ficará aberta até o dia 17 de junho, de terça a sexta, das 13h às 18h, e finais de semana e feriados, das 13h às 17h.

Serviço

Exposição fotográfica “Até quando ?”
Visitação: 18 de maio a 22 de junho, das 13h às 18h (terça a sexta) e das 13h às 17h (finais de semana e feriados)
Local: Museu de Arte da Bahia (Av. Sete de Setembro, 2340 – Corredor da Vitória)
Classificação: Livre
Entrada gratuita

Artigo do Padre Alfredo Dorea publicado no Portal PNotícias