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GBAGBE discute os rituais contemporâneos de esquecimento da ancestralidade negra

Antes do embarque forçado para serem escravizados nas Américas e Europa, mulheres e homens eram obrigados, ainda em África, a darem voltas em torno de um baobá para ali deixarem suas memórias. O trabalho cênico do ator alagoinhense Nando Zâmbia, GBAGBE – Árvore das Memórias, traz para a atualidade o ritual da Árvore do Esquecimento para tratar dos rituais contemporâneos de apagamento da herança africana. O trabalho entra em circulação virtual com três apresentações gratuitas nos dias 05, 06 e 07  de março (sexta, sábado e domingo), às 20h, no canal Nando Zambia – YouTube. Após as apresentações acontecerá o bate-papo “Passos e Rastros – Uma conversa sobre ancestralidade”, com a sacerdotisa e pesquisadora de teatro preto de Candomblé Onisajé, as yalorixás Mãe Rosa de Oyá e Jaciara Ajidoyasi, e o babalorixá Sandro Obarain.

GBAGBE, que significa esquecimento em Iorubá, surge da experiência do artista em tentar remontar a sua árvore genealógica e perceber que esta era uma tarefa impossível por não existirem memórias e documentos suficientes. “Ao tentar pesquisar a minha história, conheci o Ritual do Esquecimento e me dei conta de que esse ritual persiste até os dias atuais e de maneira ordenada, ainda que às vezes mais sutil e sofisticada”, explica Nando Zâmbia.  O espetáculo revisita o ritual para indagar sobre os apagamentos impostos à população negra, não apenas pela destruição de registros históricos, mas também através dos padrões e cobranças de uma sociedade eurocêntrica que insiste em invisibilizar a ancestralidade africana. “Antes foram voltas em torno de um baobá, e hoje, as voltas das deslembranças são em torno do quê?”, questiona.

A versão videoarte do espetáculo GBAGBE – Árvore das Memórias marca também a incursão de Zâmbia no universo audiovisual como roteirista e diretor que, provocado pela necessidade de criar durante a pandemia, se lançou para experimentar e testar os limites entre teatro e vídeo. Resultado de projeto premiado pelo Calendário das Artes, em 2020, pela Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), a versão videoarte jáfoi exibida no Catálogo Brasileiro de Teatro (2021), Festival Pra Não Dizer que Não Falaremos Das Flores- SatiryCine (2020) e V Mostra TROPÉ – Cia Talagadá (2020), além de exibições em eventos acadêmicos na Universidade do Minho (Portugal), Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e no Centro Universitário Ruy Barbosa (UniRuy). Gbagbe também acaba de ser selecionando pelo Festival de Cinema Baiano (Feciba) e Festival de Teatro Solos da Bahia.

“GBAGBE revisita e ressignifica o ritual da Árvore do Esquecimento para propor uma viagem em busca das memórias, é como se voltássemos aos pés dos baobás para de lá resgatarmos o que foi deixado pelos nossos antepassados”, conclui Zâmbia.

A circulação virtual de GBAGBE – Árvore das Memórias tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultural do Ministério do Turismo, Governo Federal.

Bate-papo – Entendendo que os Terreiros de Candomblé são espaços mantenedores da herança africana no Brasil e diásporas, é que Nando Zâmbia convida lideranças de três terreiros de Alagoinhas para o bate-papo “Passos e Rastros – Uma conversa sobre ancestralidade”. Após as transmissões de GBAGBE, o público poderá acompanhar uma conversa entre o ator, a sacerdotisa Onisajé, as yalorixá Mãe Rosa de Oyá (Ilê Axé Oyá L´adê Inan) e Jaciara Ajidoyasi (Ilê Axé Lecicongo) e o babalorixá Sandro Obarain (Ilê Axé Obarain). O objetivo é apresentar os terreiros como quilombos contemporâneos, ou seja, espaços de letramento, autoconhecimento, acolhimento, criação e fruição de cultura e arte, além de portais de religação e resgate das identidades negras.

Nando Zâmbia – Ator, diretor, iluminador e produtor negro, é formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), no Brasil, e pela Universidade de Évora (UE), em Portugal. Iniciou sua carreira em Alagoinhas, integrando o NATA – Núcleo Afro-brasileiro de Teatro de Alagoinhas, e ganhou o mundo ao circular com o seu primeiro solo Irumalé Ayê por Portugal, Grécia, Itália e Alemanha. Atuou também como coordenador no projeto Escolas Culturais e integra o Conselho de Gestão Participativa do Centro de Cultura de Alagoinhas. Como iluminador cênico, assina o desenho de luz de espetáculos como “Pele Negra, Máscaras Brancas”, “Medeia Negra” e “Exu – A Boca do Universo”.

SERVIÇO

O quê: GBAGBE – Árvore das Memórias

Quando: 05, 06 e 07 de março – 20h

Onde: Youtube – Canal Nando Zâmbia

Quanto: Gratuito

Mais informações: Clique Aqui

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