Gay, preto e gordo: filho caçula de Maguila usa redes sociais para lutar contra preconceitos
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“Eu já nasci grande. Sou filho de uma mulher branca relativamente alta. Meu pai, um homem negro de 1, 88m, com porte físico largo. Todo mundo esperava um bebezão. E eu fui muito bem acolhido nessa família. Já havia pessoas gordas. Meu avô, por parte de pai, meus tios e tias”, conta ele, que sofreu o primeiro bullying já na infância:
“Na pré-escola tive o primeiro caso, eu estava no prézinho e começaram a me chamar de baleia. E eu fiquei muito chateado porque ninguém tinha me chamado assim antes. Foi a primeira vez. Naquele momento eu tive uma leve compreensão e pensei: ‘caramba, sou gordo, sou uma baleia’. Minha mãe viu que eu estava triste e em casa eu contei. Ela só me falou: ‘Você é gordo e isso não é um problema’. A partir dali, passei a não ligar para quem me chamava de gordo. É o que eu sou e não tenho que trazer isso para uma ofensa”.
A decisão, porém, não impediu que mais e mais cenas como a da pré-escola se repetissem. Passaram a piorar quando chegou a adolecência e ele assumiu a homossexualidade. “Sempre fui um gordinho viado, era nerd também, ainda sou. Mas fui uma criança viada. Eu era muito gay e desde pequeno. E me zoavam muito porque eu era gordo, e depois porque eu era uma bichinha e minha voz não tinha engrossado como a dos outros meninos”, descreve: “Não foi fácil. Mas fiz a mesma coisa quando decidi que eu era gordo e pronto. Até me zoavam muito mais por ser gordo”.
Não por acaso a cruzada contra a gordofobia é pauta de muitos de seus trabalhos artísticos, que se transformaram em gravuras, colagens, desenhos, vídeos e fotos. Muitos deles já expostos em São Paulo, onde mora.
Até chegar à Universidade, onde se formou em Comunicação, Junior não tinha muita noção do que era racismo. Afinal, apesar de nascer numa família que teve um passado muito humilde, com a profissão de Maguila e seus títulos, ele teve privilégios que a grande maioria de garotos pretos não têm.
“Tive uma infância meio pública e privada. Meu pai é o Maguila, um dos maiores pugilistas do país, eu tive privilegios sociais e econômicos, sou fruto de uma relação interracial e sempre estudei em escolas particulares”, inicia: “Estudei numa universidade tradicional, dentro de uma aristocracia imensa em São Paulo e no meu grupo de amigos tinha muitos bolsistas do Prouni. Uma vez, um colega veio me questionar se eu era bolsista. Eu disse que não e quis saber o por quê da pergunta. Ele disse que, como meus amigos eram da periferia, e eram bolsistas que eu também poderia ser. Mas insisti na pergunta. Aí ele falou: ‘É só olhar pra você, seu cabelo é duro'”.
Para Junior esse foi o marco do racismo em sua direção. Dali por diante, o ativismo através da arte passou a ser mais forte. Além do podcast, ele atua no coletivo Adiposa Facção e dá aulas no Instituto Moreira Salles, em São Paulo.
Do Extra