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Fundo Positivo lança Apoio Financeiro Emergencial para 20 ONGs não fecharem as portas na pandemia de Covid-19

Genilson Coutinho,
24/03/2021 | 19h03

Com o objetivo de oferecer um apoio financeiro de forma emergencial para que entidades filantrópicas mantenham em dia folha de pagamento, aluguel, contas de água e luz, o Fundo Positivo vai repassar cerca de R﹩ 1 milhão para 20 organizações não governamentais neste mês de março. Enquanto não há perspectiva de quando a pandemia vai acabar e trazer o mundo de volta à normalidade, as ONGs podem contar com essa ajuda para atravessar mais alguns meses e custear essas despesas fixas de suas sedes.

O Fundo Positivo é uma organização que financia que ao longo de 6 anos mais de 120 organizações sem fins lucrativos em todo o Brasil e que atendem uma ampla população. O Fundo Positivo é amplamente apoiado por fundações e doações corporativas, como a Gilead, que apoiou essa iniciativa inédita.

Em 2020, com a pandemia causada pelo novo coronavírus, o impacto nos projetos com HIV/Aids, LGBT, mulheres, com movimentos negros e também de população trans foi significativo e fez com que o Fundo Positivo financiasse projetos de COVID-19. No entanto, neste ano, a preocupação se acentuou ao perceber que a rede de apoiados era impactada, a ponto de ter sua missão organizacional ameaçada pela falta de recursos. Este apoio emergencial não exclui o lançamento do seu edital previsto para maio deste ano.

“Muitas organizações iam rever se continuariam trabalhando, muitas delas levam serviços para diversas comunidades, desde população em favelas, em situação de rua e pessoas que convivem com HIV/Aids”, conta Harley Henriques, coordenador geral do Fundo Positivo.

O Fundo Positivo lançou o Apoio Financeiro Emergencial para gastos administrativos, como folha de pagamento, aluguel, contas de consumo como água, luz, telefone e internet. Cada uma das 20 ONGs receberá cerca de 40 mil reais. Esse tipo de recurso, para despesas rotineiras a fim de manter a sede administrativa, explica Harley Henriques, é mais difícil de uma instituição conseguir obter.

“As ONGs acabam obtendo verbas para financiar projetos e atividades, mas não para custear a sede. Com este Apoio Financeiro Emergencial, o Fundo Positivo quer que as entidades fiquem despreocupadas com essas despesas, ganhem fôlego e, assim, consigam manter o seu funcionamento”, detalha Henriques.

Da rede de apoiadas, 20 foram selecionadas para receber o Apoio Emergencial de R﹩ 40 mil. Entre os critérios utilizados para selecionar as organizações estão estar em dia com a prestação de contas de projetos financiados. Destas 20, 18 foram selecionadas pelo Fundo Positivo e duas através de carta-convite, pela excepcionalidade do trabalho, como os projetos do Padre Júlio Lancelotti e a médica infectologista Marinella Della Negra.

As entidades ficam em estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Sul e Espírito Santo, dentre outros

Após 180 dias do recebimento do recurso, as ONGs deverão prestar contas.

Alicerce e sobrevivência

Para o padre Júlio Lancelotti, uma das referências na defesa dos direitos humanos que comanda a Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, que faz 30 mil atendimentos mês a moradores em situação de rua na cidade de São Paulo, o auxílio vem em boa hora. “Essa ajuda do Fundo Positivo garante a sobrevivência do nosso trabalho, uma importância vital porque nesse tempo de tantas dificuldades são poucos os apoios que a gente recebe. É muito positivo esse gesto”, afirma Lancelotti.

Na percepção de Deborah Sabará, que preside a Associação Gold, de Vitória (ES), o auxílio será um alicerce. A associação, que desenvolve projetos sociais a partir das perspectivas de direitos humanos, contratou um funcionário para captar recursos para geração de outros projetos. “O auxílio do Fundo Positivo é como se fosse um alicerce, que segura a instituição para sobreviver e continuar os seus projetos”, pontua a presidente da Gold.

Márcio Villard, coordenador geral do Grupo Pela Vidda, do Rio de Janeiro, alerta que algumas ações da entidade foram comprometidas em 2020, mas que para 2021, o auxílio traz esperança para manter o local em funcionamento. “Esse auxílio do Fundo Positivo vem numa hora muito importante. Ao manter a entidade, conseguimos dar prosseguimento a algumas atividades essenciais, como apoios psicológico e jurídico à população com HIV/Aids e também ações educativas de prevenção. Uma oportunidade de não parar as atividades”, detalha Vilar.

Segundo Alessandra Nilo, coordenadora da Gestos, organização de Recife (PE) que também trabalha com promoção dos direitos humanos das pessoas que vivem com HIV/AIDS, a iniciativa é bastante original para os tempos atuais, bem-vindo e necessário. “Esta intervenção do Fundo Positivo representa uma parceria solidária para a garantia de manutenção da nossa sede por alguns meses e do pagamento de salários de pessoas que executam funções importantes para o funcionamento, por seis meses”, diz Alessandra.

Para a médica infectologista Marinella Della Negra, fundadora da Associação de Auxílio à Criança e Adolescente Portador de HIV, que presta acolhimento e financia faculdade de um grupo de adolescentes que vivem com HIV em São Paulo, o auxílio traz um alento. “Neste cenário de pandemia de Covid-19, as situações sócio-econômicas são difíceis. Logo, o auxílio financeiro emergencial do Fundo Positivo nos garante as condições básicas de funcionamento e, assim, utilizar os demais recursos para manter esses jovens na faculdade”, conta Marinella. Médica efetiva do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, de São Paulo, Marinella trabalha com crianças que vivem com HIV desde 1985.