O Laboratório de Pesquisa Clínica em DST e AIDS, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), conduzirá o estudo clínico HPTN077 com um medicamento totalmente novo para prevenção da AIDS. A droga, conhecida como GSK1265744, já mostrou resultados positivos em testes conduzidos para tratamento da AIDS, e agora terá seu potencial testado como parte da estratégia de prevenção da infecção pelo HIV. A pesquisa será realizada simultaneamente na África do Sul, no Brasil, nos EUA e no Malawi.
Seleção de voluntários – Os candidatos a participar da pesquisa serão selecionados na Fundação Oswaldo Cruz. “Este critério tem como objetivo potencializar a adesão, facilitar a administração do medicamento e o acompanhamento clínico”, explica Beatriz Grinsztejn, coordenadora do Laboratório e pesquisadora líder do estudo. A proposta do projeto é avaliar a segurança, tolerância, aceitabilidade e sua farmacocinética (descrevendo o processamento da droga no corpo humano, identificando o caminho percorrido no organismo da administração à excreção).
Depois de passar por uma avaliação completa do estado de saúde, serão selecionados 20 voluntários entre os candidatos inscritos, homens e mulheres, de 18 a 65 anos, não infectados e com baixo risco de contrair o HIV. O remédio, que já provou ser seguro em testes anteriores, é injetável, será aplicado a cada três meses e o acompanhamento dos voluntários terá uma duração total de dois anos.
Estado da arte das estratégias de prevenção- Atualmente, estudos como o de Profilaxia Pré-exposição ao HIV (PrEP) já demonstraram que é possível obter 100% de proteção contra a infecção ao longo do tempo, mas para tal é necessária a ingestão diária de um antirretroviral. “Costumamos fazer uma analogia com os anticoncepcionais. Existem alternativas das mais diversas, desde o comprimido diário, até o DIU, passando por injeções trimestrais, a camisinha, enfim. Queremos que exista essa mesma diversidade nas estratégias de prevenção do HIV/AIDS. Assim cada pessoa escolherá o que melhor se adapta à rotina dela”, pondera Beatriz.
A Rede de Testes de Prevenção do HIV (The HIV Prevention Trials Network – HTPN), é uma organização colaborativa mundial que realiza estudos clínicos da segurança e eficácia de estratégias de prevenção do HIV financiada pelo governo americano. “O Brasil participa de pesquisas de ponta no tratamento e prevenção da AIDS da HPTN, mas sempre em fases mais adiantadas. Neste caso, que envolve um estudo em seus primeiros estágios, estamos no momento privilegiado, do estado da arte em que se gera mais conhecimento, se faz ciência. Lutamos que estudos assim sejam feitos com a população brasileira, pois assim teremos resultados que respondam à nossa diversidade genética, à nossa realidade. Desta forma teremos um conhecimento melhor do manuseio do produto, reações adversas, etc., e podemos conduzir melhor as fases posteriores da investigação”, conclui a pesquisadora.