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Filme ‘Mestras’ faz história ao ser selecionado no Festival de Gramado

Redação,
18/07/2024 | 22h07
Valdomira Maria Machado, a Miloca de Ourém (PA), criadora de mais de oitenta músicas, é uma das protagonistas apresentadas em Mestras

O cinema da Amazônia acaba de alcançar um marco histórico: pela primeira vez, um documentário longa-metragem do Pará chega ao Festival de Gramado, o mais prestigiado evento de audiovisual brasileiro. O filme “Mestras” está entre os cinco selecionados da categoria, disputada com cerca de 150 obras inscritas. Com direção da cantora Aíla e da artista visual Roberta Carvalho, a produção lança luz sobre o protagonismo de artistas mulheres que têm papel fundamental na propagação e manutenção das tradições culturais da região Norte do Brasil. A premiação do Festival de Gramado ocorre dia 17 de agosto. O documentário será exibido no Canal Brasil dia 13 de agosto. Realizado pela produtora 11:11 ARTE, o projeto conta o patrocínio Natura Musical via Lei de Incentivo à Cultura Semear, Fundação Cultural do Pará, e Governo do Pará.
 

Cantora e compositora, Aíla estreia seu primeiro filme já na disputa por um Kikito. “É muito emocionante ver isso acontecer, ainda mais com um filme feito por uma equipe 100% do Pará, do Norte. Estamos vibrando para que venha mais. Queremos o Kikito pro ‘Mestras’! Desejo que essa indicação ao Festival desperte o interesse pelo Brasil e mundo de ouvirem histórias da Amazônia sendo contadas por Amazônidas, em 1ª pessoa”, diz.

Em sua pesquisa, as diretoras Aíla e Roberta Carvalho mapearam diversas mestras do Pará, comumente omitidas nos registros da música nortista brasileira – o que reforça o quanto a história, de maneira geral, é contada por protagonistas homens, que pontificam em todos os setores, das artes à política. O documentário passeia por vertentes distintas da música do Pará – como o samba de cacete, com a Mestra Iolanda do Pilão; o boi, com a Mestra Miloca; e o carimbó, com a Mestra Bigica, do grupo Sereia do Mar. A cantora Dona Onete participa contando episódios significativos de sua história: ela gravou o primeiro disco aos 73 anos de idade e é hoje uma das referências da música paraense no Brasil e no mundo.
 


“Registrar as trajetórias das mestras da música popular é um posicionamento político e de ativismo cultural, já que estamos falando sobre as tantas invisibilidades passadas por mulheres. Elas são guardiãs de tradições ancestrais que têm um papel fundamental na identidade cultural do Pará e da Amazônia como um todo. O filme colabora para que possamos ouvir suas histórias, conhecimentos e músicas e que isso tudo seja preservado e transmitido para as futuras gerações, fortalecendo nosso patrimônio cultural”, diz Roberta Carvalho.
 

Múltiplas linguagens

Em sua linguagem múltipla, o filme combina documentário, drama, musical e artes visuais com projeções assinadas por Roberta Carvalho. A obraparte das memórias de infância e familiares de Aíla, narradora do filme. Ao contar histórias de sua mãe e avó, que partiu nas águas de uma Amazônia Atlântica pouco conhecida e, ao apresentar o próprio passado, Aíla presta reverência às mestras ancestrais da música e da vida, mantendo aceso este legado.

“Esse é um filme que, além de um documentário, é também um drama: existe uma história em paralelo que costura a narrativa, por entre as falas e histórias de cada Mestra, que é a história da minha avó, que morreu afogada no mar, aos 26 anos, e isso interliga o drama nessa minha busca por mulheres na narrativa do filme. É muito íntimo tudo isso, mas ao mesmo tempo tem muita relação com a vida de todas as pessoas, sempre tem algum fato que liga a narração ao espectador. É o particular que é coletivo”, conta Aíla.
 

Roberta destaca o papel das intervenções artísticas como elemento da narrativa. A artista projetou imagens das Mestras em grande formato em suas cidades de origem como uma forma de homenageá-las e de criar uma conexão emocional única entre suas histórias e o ambiente ao redor, imprimindo uma experiência visual e sensorial para o filme.
 

“Ao iluminar os espaços com projeção das imagens das Mestras, o filme transcendeu as fronteiras da tela e mergulhou diretamente na relação com a comunidades dessas artistas, dimensionando suas formas, exaltando-as e simbolicamente erguendo monumentos vivos de suas existências fundamentais para nossa cultura”, diz Roberta.
 


Erguido por talentos paraenses, o filme tem trilha original de Jade Guilhon, Sara Moraes e Luiz Pardal; roteiro de Aíla, Carolina Matos e Roberta Carvalho; montagem e finalização de Adrianna Oliveira; e direção de fotografia de Thiago Pelaes.


O documentário Mestras foi selecionado pelo edital Natura Musical, por meio da lei estadual de incentivo à cultura do Pará (Semear), ao lado de nomes como Festival MANA, Nação Ogan, Festival Psica, Sumano MC e Nic Dias. No Estado, a plataforma já ofereceu recursos para mais de 80 projetos até 2022, em diferentes formatos e estágios de carreira, como Dona Onete, Raidol, Nic Dias e os festivais Mana, Lambateria e Psica.

Sobre Aíla


Aíla é uma das principais vozes da música contemporânea da Amazônia. Cantora e compositora com três discos lançados, milhões de plays nas plataformas de streaming, suas turnês já circularam em palcos emblemáticos, como Rock in Rio e Coala Festival.

Nascida na Terra Firme, periferia de Belém, é fundadora e diretora artística de festivais pioneiros na região norte, como o MANA, que destaca o protagonismo das mulheres no mercado da música, e o Amazônia Mapping, que integra intervenção urbana, música e artes visuais.
 

Em 2022, foi diretora musical da NAVE no Rock in Rio, que levou mais de 50 artistas amazônidas para o maior festival de música do mundo. Em 2023, assinou a direção musical, juntamente com Russo Passapusso, do espetáculo Pororoca, um ato em defesa da Amazônia, que aconteceu no Central Park, em Nova York (EUA), com transmissão pelo canal Multishow. Juntamente com a artista visual Roberta Carvalho, criou e assinou a direção artístico-musical da intervenção Amazônia: uma Experiência Imersiva, que aconteceu em Belém, durante a Cúpula da Amazônia, que reuniu presidentes de vários países da Amazônia internacional, e posteriormente em uma re-apresentação na COP 28, em Dubai, para chefes de estado do mundo todo.
 

Sobre Roberta Carvalho


Roberta desenvolve trabalhos envolvendo linguagens visuais, audiovisual e tecnológicas, transitando entre suportes como vídeo, filmes, vídeo clipes, intervenção urbana, projeção mapeada, realidades mistas, instalação e projetos de audiovisual expandido. Formada em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Pará, foi vencedora do Prêmio Funarte Mulheres nas Artes Visuais. Suas obras integram os acervos do Museu de Arte Contemporânea Casa das 11 Janelas (PA), Museu de Arte do Rio (MAR) e Museu da Universidade Federal do Pará. Além de artista, sua poética abrange atuações como artista-curadora e diretora artística em projetos que envolvem artes visuais, tecnologia e questões sobre o território amazônico. É criadora do Festival Amazônia Mapping, um projeto pioneiro de arte e tecnologia no Brasil. No Rock in Rio 2022, foi diretora artística e curadora da NAVE, um projeto de audiovisual expandido, que apresentou uma instalação imersiva que levou mais de 50 artistas amazônidas para o maior festival de música do mundo. Foi diretora artística, criativa e visual de experiências imersivas como Amazônia, em Belém do Pará e na COP 28 em Dubai, além do projeto Pororoca, uma ação artística e cultural sobre a Amazônia que aconteceu na Times Square e no Central Park, em Nova York.
 

Ficha técnica MESTRAS

Direção: Aíla e Roberta Carvalho

Roteiro: Aíla, Carolina Matos e Roberta Carvalho

Edição e montagem: Adrianna Oliveira

Direção de fotografia: Thiago Pelaes

Trilha Sonora: Jade Guilhon, Sara Moraes e Luiz Pardal

Realização: 11:11 ARTE

Patrocínio: Natura Musical
 

Sobre Natura Musical
Natura Musical é a plataforma cultural da marca Natura que há 18 anos valoriza a música como um veículo de bem estar e conexão. Desde seu lançamento, em 2005, o programa investiu mais de R$ 190 milhões no patrocínio de mais de 600 artistas e projetos em todo o Brasil, promovendo experiências musicais que projetam a pluralidade da nossa cultura. Em parcerias com festivais e com a Casa Natura Musical, fomentamos encontros que transformam o mundo. Quer saber mais? Siga a gente nas redes sociais: @naturamusical.