Nesta quinta-feira (14), o longa-metragem Cores e Flores para Tita estreia no Canal Brasil. Dirigido por Susan Kalik, o documentário baiano conta a história de Renato Tita, um jovem trans, que morreu aos 15 anos de idade, na década de 70, no interior do Paraná. Realizado pela Modupé Produtora, a obra foi rodada em 2017, data que marca os quarenta anos do falecimento de Tita. A transmissão faz parte de uma iniciativa do Canal Brasil, que homenageia o mês da Visibilidade Trans, com exibição no dia 14/01, às 19h e reprise, terça dia 26/01, às 11h30.
O ponto de partida do doc é a exposição feita pela sobrinha de Renato Tita, a foto-ativista Adeloyá Ojú Bará. Para Bará, o resgate da memória do seu tio é o reconhecimento à expressão de gênero transmasculina dele. A fotógrafa acredita que este direito lhe foi negado, causando diversas violências que o levaram a encerrar a sua própria vida. Por esta razão, Bará coloca em seu trabalho todo sentimento de batalha e resistência, que é preciso haver nestes casos. “Nossa luta é pelo direito de existir com suas especificidades e que essa singularidade não seja uma sentença de morte”, elucida.
É a partir deste acontecimento, que a cineasta Susan Kalik parte. Construindo um diálogo entre o vilipêndio vivenciado por Tita e a luta contra a transfobia nos dias atuais, Kalik conversa com mulheres trans/travestis e homens trans, de diferentes idades e vivências, em depoimentos sobre suas vitórias, resistências e principalmente, seu amor e a coragem de lutar para serem quem são. Para a diretora, que também assina o roteiro e produção do longa, esta é uma obra sobre perda, seja da vida de Tita que foi tomada, como também sobre a ausência de viver com plenitude, pois a sociedade ainda impede que as pessoas trans vivam plenamente.
Para Diego Nascimento, ativista LGBT+ e feminista, graduando em Direito e integrante dos Coletivos De Transs pra Frente e Dissidentes, Cores e Flores para Tita é sensível, representativo e empoderador. Nascimento acredita que a maior relevância do filme está em discutir a transgeneridade fora do lugar comum do riso e do estigma, que é tão visto por ele. “É a arte, mais do que imitando, narrando nossas vidas. Com todas as Cores, Flores, dores e delícias que ela tem. O lançamento desse filme no mês da visibilidade trans, no ano posterior ao que foi recorde de assassinatos de pessoas trans no país, é, ao mesmo tempo, um alento e uma denúncia. Que a visibilidade aqui conquistada sirva para nos manter vivos”.
Além de Diego Nascimento, durante as gravações, outros nomes relevantes também foram entrevistades, como Keila Simpson, presidenta da ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais e Coordenadora da Associação Baiana de Travestis, Transexuais e Transgêneros em Ação – Atração e Viviane Vergueiro, Pesquisadora, Consultora e Analista, Doutoranda em gênero, travestis, não binárias e não ocidentais.
O doc ganhou o prêmio de Melhor Roteiro na Mostra SESC de Cinema Bahia, e prêmio de Licenciamento nacional, sendo exibido nas Salas de Cinema do SESC, por dois anos. A produção foi desenvolvida de forma independente, com recursos próprios e apoio de parceiros e amigos. Na equipe técnica, a obra contou com montagem de Thiago Gomes e trilha sonora original de Peter Marques, com participação da Canção “Tango do Mal” de Luciano Salvador Bahia e Eduardo Dussek, e distribuição da APAN – Associação dxs Profissionais do Audiovisual Negro.
SINOPSE
O filme traz luz a história de Renato Tita, um jovem trans, suicidado aos 15 anos de idade, na década de 70. Quarenta anos depois, Adeloyá Ojú Bará, foto-ativista e sobrinha de Renato, homenageia o tio com uma exposição fotográfico em reconhecimento a sua expressão de gênero transmasculina, que lhe foi negada. E como forma de justiça ao vilipendio vivido por seu tio: a negação de sua masculinidade, o provável estupro e gravidez, que o levaram ao suicídio.