HIV em pauta

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Festival Contato apresenta ‘Mais Arte, Menos Aids 2025’: auditório público, intervenções artísticas, testagem de HIV e PrEP e PEP na Praça da Sé

Genilson Coutinho,
24/11/2025 | 21h11

Em ato inédito, mulheres vivendo com HIV desfilam na Praça da Sé e colocam seus corpos no centro do debate sobre direitos e prevenção.

No próximo 1º de dezembro, a Praça da Sé — marco zero de São Paulo e ponto pulsante das existências que se cruzam diariamente — será tomada pelo Festival Contato que apresenta “Mais Arte, Menos Aids 2025”, uma intervenção que une arte, saúde pública e mobilização social. O centro da cidade, onde tantas histórias se cruzam e tantas desigualdades se tornam visíveis, será transformado em um grande território de encontro, diálogo e celebração da vida.

A data marca o Dia Mundial de Luta Contra a Aids, momento simbólico que, desde 1988, convoca o mundo a lembrar quem se foi, proteger quem está aqui e reafirmar o compromisso com justiça social, acesso à saúde e combate ao estigma. Neste ano, essa convocação ganha corpo no espaço público, na luz do dia, diante de todos.

A intervenção integra o Festival Contato, do Sesc São Paulo, que este ano faz 30 anos de atuação. A iniciativa dedicada a promover ações artístico-culturais voltadas à cidadania, diversidade e saúde. Realizada pela Agência de Notícias da Aids em parceria com o Sesc Carmo, a ação reunirá artistas, ativistas, pesquisadores, profissionais de saúde e o público que circula diariamente pela Praça da Sé — um dos pontos mais emblemáticos e simbólicos da capital.

O objetivo é claro: reforçar a importância da prevenção combinada, ampliar o acesso à informação qualificada e prestar homenagem às pessoas que vivem com HIV e às que perderam a vida para a aids. A arte, neste contexto, surge como linguagem que desarma, aproxima e educa; como porta de entrada para conversas que não podem mais ser adiadas.

O evento acontece das 11h às 16h30. Para a idealizadora da mostra, a jornalista Roseli Tardelli, a arte segue como linguagem fundamental na conscientização: “Me sinto feliz em poder organizar esta mostra porque considero muito importante que as pessoas se informem sobre os novos conceitos de prevenção disponíveis atualmente. A arte sempre foi nossa aliada para tocar todos sobre nossa vulnerabilidade em relação ao HIV. Assim, as exposições, o desfile e as ações de prevenção ocuparão a Praça da Sé e farão seu papel de informar, para que a informação e a prevenção cheguem antes do HIV”, destacou.

Roseli, que já levou grandes mobilizações às ruas da cidade, destaca que o Dia Mundial deve seguir sendo um marco de solidariedade e memória: “É dia de honrar quem se foi, mas também de afirmar as vidas que seguem — e que têm direito de viver com dignidade, segurança e respeito”.

A iniciativa conta com apoio do Sesc São Paulo, da Coordenadoria Municipal de IST/Aids de São Paulo, das farmacêuticas Gilead e GSK/ViiV Healthcare e da Casa Gil Gondim  e apresenta uma programação diversificada.

Destaques da programação

Mulheres vivendo com HIV desfilam na Praça da Sé

O desfile “Camisinha a gente pode usar, está disponível no SUS”, com peças criadas pela artista plástica Adriana Bertini, será um dos momentos mais simbólicos do evento. Em 2025, a ação ganha dimensão inédita ao reunir mulheres cis e trans que vivem com HIV, que ocuparão a Praça da Sé como protagonistas de uma intervenção pública de visibilidade e enfrentamento ao estigma.

Entre as participantes estão Silvia Almeida, vivendo com HIV há mais de 30 anos; Jenice Pizão, referência em ativismo e direitos das pessoas vivendo com HIV; Lua Mansano, travesti, produtora audiovisual e consultora em diversidade; e Carolina Iara, travesti, pesquisadora, co-deputada pela Bancada Feminista do PSOL e defensora dos direitos humanos. Elas desfilarão com peças confeccionadas a partir de preservativos reaproveitados, marca registrada do trabalho de Adriana, que há quase três décadas usa a arte para promover prevenção, educação e conscientização.

O desfile propõe um diálogo direto com a população, reforçando mensagens de prevenção combinada, orgulho, cidadania e combate ao preconceito. Ao ocupar o espaço público, a ação reafirma que viver com HIV é compatível com saúde, beleza e visibilidade — e que o estigma precisa ser superado coletivamente.

Exposição “I Festival Internacional de Humor em DST e Aids”

Com curadoria do Ministério da Saúde e do Departamento de Aids, a exposição apresentará 18 cartoons selecionados entre os mais de 1.300 trabalhos inscritos no festival internacional. Os desenhos, criados por artistas de 54 países, exploram temas como prevenção, tratamento e direitos humanos, reforçando o papel da arte na conscientização.

Exposição “Indetectável = Zero (I=0)”

Organizada pelo Ministério da Saúde, a mostra reúne seis banners com fotos e depoimentos de pessoas vivendo com HIV que têm carga viral indetectável há mais de seis meses, graças à adesão ao tratamento. O objetivo é combater o estigma e disseminar o conceito de que indetectável é igual a intransmissível, promovendo empatia e compreensão.

Testagem, PrEP, PEP e cuidado comunitário

A equipe do Instituto Cultural Barong oferecerá testagem rápida para HIV, sífilis e hepatites B e C, além de distribuição de preservativos, lubrificante e orientações completas sobre prevenção combinada.

Já o projeto PrEP na Rua, da Coordenadoria de IST/Aids de São Paulo, leva para a praça aquilo que deveria estar ao alcance de todos: informação clara, insumos, escuta qualificada e acesso à PrEP em locais públicos, sem burocracia, sem barreiras.

Auditório público: quando a cidade vira sala de conversa

Um dos momentos mais interativos da programação será o auditório público, instalado ao ar livre, em pleno centro da cidade. Ali, qualquer pessoa poderá sentar, ouvir, perguntar, compartilhar, aprender.

Participam:

Guggaã Taylor – psicóloga, ativista e mulher vivendo com HIV há 30 anos

Guggaã tinha pouco mais de 20 anos quando recebeu o diagnóstico, em uma época marcada por desinformação, medo e estigma brutal. Construiu sua trajetória entre a psicologia, a militância e o cuidado comunitário. Hoje, três décadas depois, ela fala sobre saúde mental, direitos reprodutivos, sexualidade e a potência da vida com HIV.

Seu trabalho é reconhecido por acolher especialmente mulheres — cis e trans — que vivem situações de violência, abandono e vulnerabilidades múltiplas. Ela costuma dizer que “ninguém vive com HIV sozinho” e que a comunidade salva.

Dra. Mafê Medeiros – infectologista, pesquisadora e defensora incansável de políticas públicas

A infectologista Mafê Medeiros integra o Instituto de Infectologia Emílio Ribas e a Casa da Pesquisa do CRT. Atua na linha de frente do cuidado, mas também na formação de profissionais e no desenvolvimento de novas estratégias de prevenção e tratamento.

É reconhecida pela comunicação simples e humana, que explica sem assustar, que acolhe sem infantilizar, que constrói pontes entre ciência e cotidiano. Mafê tem dedicado parte de sua carreira a fortalecer o acesso à PrEP, ao cuidado integral e à redução de danos, sempre com centralidade na dignidade das pessoas vivendo com HIV.

O objetivo é promover conversa aberta e acessível sobre prevenção, cuidado, estigma e direitos.

 Uma intervenção para educar, inspirar e celebrar vidas

“Mais Arte, Menos Aids 2025” reafirma o poder transformador da arte e da informação na luta contra o HIV/aids. A Praça da Sé, marcada pela diversidade e pelo encontro, torna-se cenário ideal para um ato de criatividade, acolhimento e defesa da vida.

Serviço

Intervenção Festival Contato apresenta “Mais Arte, Menos Aids 2025”

Quando: segunda-feira, 1º de dezembro Horário: 11h às 16h30

Local: Praça da Sé – São Paulo