Estudo revela que 75% dos homens que fazem sexo com homens não usam preservativo em sexo anal
Um estudo realizado por meio do Programa de Pós Graduação da Universidade de Estadual Paulista (Unesp) analisou o comportamento a respeito do uso de preservativos por homens que fazem sexo com homens.
Com objetivo de identificar, a partir de relatos verbais, fatores que podem interferir no uso do preservativo entre HSH, o estudo revelou que 75% dos entrevistados não utilizam preservativos em suas relações anais, mesmo tendo conhecimento sobre essa forma de prevenção.
Além de demonstraram autoconhecimento e de relatarem não haver dificuldade em pedir para o parceiro usar o preservativo, os entrevistados demonstraram ter informações corretas e significativas sobre o HIV/aids. Entretanto, é alta a frequência de participantes que não tem práticas seguras em relações sexuais anais, bem como em relacionamentos estáveis.
Segundo a pesquisadora, Maiara Brum e suas colegas, Lenice Souza e Ana Tereza Cerqueira, a partir dos resultados obtidos é possível dizer que o autoconhecimento e a compreensão sobre a infecção e suas consequências parecem não ser suficientes para garantir a mudança de comportamentos dessa população.
Acredita-se ser necessária a criação de políticas que visem novas práticas culturais e não apenas ações individuais.
O estudo
Foram entrevistados 120 homens que fazem sexo com homens e que são usuários do Serviço de Ambulatórios Especializados de Infectologia Domingos Alves Meira, que integra o complexo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucat. Também foram entrevistados participantes encontrados a partir de convites efetuados em redes sociais e pela técnica conhecida como bola de neve.
Maiara defende que “autoconhecimento diz respeito a capacidade de reconhecer e relatar sobre situações que ocorrem consigo, sejam dentro de si ou em relação ao ambiente externo. E ter autoconhecimento não implica necessariamente na capacidade de controlar o próprio comportamento (autocontrole).”
Nesse sentido, a pesquisadora acredita-se que o uso inconsistente do preservativo entre homens que fazem sexo com homens possa estar relacionado à dificuldade de controlar o próprio comportamento, apesar de terem conhecimento sobre os riscos da infecção pelo HIV.
Segundo dados do Boletim Epidemiológico HIV/aids 2020, do Brasil, foram notificados, entre 2007 e junho de 2020, 237.551 (69,4%) casos de infecção pelo HIV em homens.
Dados coletados

Os resultados obtidos pela pesquisa evidenciou que
- 75% relatou não ter usado preservativo em todas as relações sexuais (sexo anal) nos últimos seis meses
- 79% referiu não ter dificuldade para solicitar o uso do preservativo a seus parceiros
- 81% relataram diminuir a frequência ou interromper o uso do preservativo em relacionamentos fixos
- 64% dos participantes acertaram entre 81% e 92% das questões de conhecimentos acerca da infecção pelo HIV/aids.
Já sobre os motivos para não usar o preservativos, os participantes relataram que:
- Há confiança no parceiro (61%)
- Prazer momentâneo (35%)
- Fazem apenas sexo oral sem preservativo (25%)
Maiara Brum ressaltou em sua apresentação que o autoconhecimento não surge de maneira espontânea ou imediata. “O indivíduo passa a apresentar relatos autodescritivos a partir da mediação da comunidade verbal. Ter conhecimento sobre alguns aspectos de si ou sobre como se desenvolve uma doença pode não ser uma variável suficiente para controlar um comportamento.”
“A frequência de respostas dadas pelos participantes do estudo sugere que para essa população, o prazer obtido no ato sexual pode ser entendido como a principal consequência que mantem o comportamento de não uso do preservativo. Por confiarem nos acordos feitos na relação e nas falas dos parceiros a possibilidade da ocorrência da infecção pelo HIV não se torna uma variável forte o suficiente para manter a prática de sexo seguro.”
A pesquisadora também concluiu junto a suas colegas que “embora autoconhecimento não garanta o autocontrole sua promoção é necessário para que o individuo tenha uma maior compreensão de seus comportamentos. Um maior autoconhecimento pode ajudar o individuo a compreender melhor suas fontes de prazer e ampliar as possibilidades de respostas alternativas. Entretanto, essas mudanças só ocorrerão em um contexto cultural que possibilite a aquisição desses novos comportamentos.”
Agência Aids
