O ator baiano Érico Brás, originalmente do Bando de Teatro Olodum, ficou conhecido nacionalmente como “Reginaldo”, seu personagem no filme e seriado: Ó Paí, ó. Atualmente, ele está no seriado da Globo Tapas & Beijos, exibidos nas noite de terça, no qual contracena com nomes da comédia nacional como Fernanda Torre e Andrea Beltrão.
Dois Terços: Você está no elenco da serie Tapas & Beijos, na qual vive Jurandir, ex-marido de Sueli, personagem da atriz Andrea Beltrão. Como tem sido essa nova experiência ao lado de grandes estrelas da TV?
Érico Bras: Está sendo ótimo. Andréa é uma ótima atriz, adoro o trabalho dela… Sou um colega/fã. O mesmo digo dos outros colegas. Estou feliz em fazer parte deste elenco.
DT : Durante seus 11 anos no Bando de Teatro do Olodum você participou das principais montagens focadas em questões de valorização e da situação do negro no Brasil. O que mais lhe marcou na concepção dos seus personagens?
EB: Eu gosto de todos os espetáculos do Bando. Gosto de todos os personagens aos quais dei vida. Acho que todos os espetáculos do Bando são necessários. Precisamos continuar discutindo a situação do negro no Brasil e o Bando faz isso com suas peças. É um teatro político necessário.
DT: Você viveu sua infância no bairro de Fazenda Coutos, no subúrbio ferroviário e sempre enfrentou as dificuldades de um jovem negro que morava na periferia. Como foi essa fase da sua vida?
EB: Difícil como a vida de um jovem de periferia qualquer. A escola não era boa, a saúde e a segurança eram precárias. Mas meus pais sempre me deram o básico pra sobreviver. Eles garantiram que eu pudesse estudar e alimentar os meus sonhos. Quando entrei para o Bando, em 1999, virei uma referência na comunidade. Fico triste quando volto na Fazenda Coutos e vejo que pouca coisa mudou.O abandono ainda é uma realidade na comunidade.
DT: Seu personagem Reginaldo ganhou o Brasil com seu jeito baiano de ser. De onde veio a inspiração para composição de Reginaldo?
EB: Esse personagem já existia na trilogia do Pelô do Bando. Eu achei ele pronto no teatro e dei a cara que eu achava que ele precisa ter no cinema.Conversei com motoristas do Pelourinho e fui adicionando elementos para aquele personagem.
DT: O negro ainda continua vivendo papéis secundários na televisão brasileira mesmo com todas as lutas das lideranças do Movimento Negro. Qual sua opinião sobre essas questões?
EB: Acho que a gente até avançou. Mais ainda é pouco. Somos a maioria no país e não estamos em maioria na televisão. Acredito na mudança do país. Acredito no avanço dessa luta. Muitos de nós temos espaço porque muitos lutaram e lutam na história desse país. É necessário grupos de teatro como o Bando, que fala disso no palco, na TV e no cinema. Sou do Bando.
DT: Na serie Ó Pai, ó você vivia um romance paralelo com a travesti Yolanda. O que você pensa sobre os homens que buscam o prazer nos braços de um travesti?
EB: Não vejo problema! Cada um vive a sua condição. Todo mundo pode viver o que quiser. Se está feliz, vai fundo.
DT: A comunidade LGBT conseguiu instaurar a Frente Parlamentar pela Cidadania LGBT que está buscando a aprovação do Projeto de Lei 122, que tornará a homofobia um crime. Você também acredita que lugar de homofóbico é na cadeia?
EB: Homofobia e racismo, dentre outras discriminações, têm que ser punidos. Mas é preciso prevenir e acho que podemos começar pela educação. Ensinar as nossas crianças a lidar com as diferenças. Entender que o diferente também é bonito vai facilitar o nosso trabalho na busca da igualdade.