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Divina Valéria: Musa LGBTQIAPN+

Carlos Leal,
09/05/2023 | 11h05
(Foto: Divulgação)

Na década de 90, um dos sucessos do teatro baiano foi Ema Toma Blues, com texto de Aninha Franco e estrelado por Divina Valéria, uma das musas LGBTS mais conhecidas de Salvador. Era uma grande artista que desfilava um repertório de primeira qualidade, enquanto ia contando histórias. O canto de Valéria emocionava.

No palco, Divina Valéria, uma das musas LGBTS mais conhecidas em Salvador. Foi musa do pintor Di Cavalcante, tinha discos gravados e já havia brilhado em espetáculos na Europa nas décadas de 70 e 80, além de ter sido por 12 anos musa de um bloco de carnaval , o Jacu.

Artisticamente, Divina Valéria iniciou sua carreira no Rio de Janeiro ao lado de Rogéria (1943-2017) em Les Girls, no ano de 1964, época da Ditadura Militar, mas que isso não foi problema, pelo menos para ela. Valéria conta que algumas coisas, claro, não poderiam ser feitas: aparecer em TV e capa de revista, nem pensar. Sair do teatro vestida se mulher depois dos shows, nem em sonho. Mas ela sempre driblou o preconceito, sabia se impor.

No anos 70 resolve mudar de vida: vai morar na Europa e lá conquista o estrelato. Escolheu Paris como ponto de apoio e de lá fez show por toda a Europa. “No Brasil, o preconceito não me afetava e chegando na Europa, onde não existia preconceito, me senti em casa”, conta. Foi na Capital Francesa que conheceu Di Cavalcanti, ficaram amigos e acabou sendo retratada pelo artista.

Grande cantora, a trajetória de Divina foi contada em 2021 no livro Divina Valéria (Editora Desacato) , escrita por Alberto Camargo e Alberto de Oliveira, conhecidos como Os Albertos. Divina também esteve no elenco e Travessia (Rede Globo), foi homenageada por Leandra Leal no documentário Divinas Divas (2016), ao lado de outras grandes divas: Rogéria, Valéria, Jane Di Castro, Camille K, Fujika de Holliday, Eloína dos Leopardos, Marquesa e Brigitte de Búzios. O documentário mostra o reencontro das artistas para a montagem de um espetáculo, trazendo para a cena as histórias e memórias de uma geração que revolucionou o comportamento sexual e desafiou a moral de uma época.

Carlos Leal – Jornalista formado pela Universidade Tiradentes, Especialista em Marketing Digital, autor do livro infanto-juvenil Histórias de Dona Miúda: a Raínha do Forró (Ed.Pinaúna), co-autor do livro Cem Anos de Dorival Caymmi: panoramas diversos, em parceria com a Professora Dra. Marilda Santanna. Atualmente colabora com artigos e textos para O Dois Terços e para o jornal A Tarde e escreve duas biografias: da cantora alagoana Clemilda e da sambista baiana Claudete Macêdo.