Deputada Duda Salabert cobra ação do governo federal para garantir acesso ao lenacapavir no SUS: “Não podemos deixar essa revolução médica virar privilégio de poucos”
A deputada federal Duda Salabert (PDT-MG) usou suas redes sociais para fazer um apelo contundente ao governo brasileiro: que atue com firmeza nas negociações internacionais para garantir o acesso da população ao lenacapavir, medicamento injetável de ação prolongada que tem se mostrado altamente eficaz na prevenção do HIV. Embora o Brasil tenha participado dos testes clínicos que comprovaram a eficácia do fármaco, o país foi excluído da proposta de licenciamento voluntário feita pela farmacêutica Gilead Sciences ao Medicines Patent Pool (MPP), o que impede a produção e distribuição de versões genéricas acessíveis.
Em vídeo publicado no Instagram, a parlamentar destacou o impacto potencial da nova tecnologia, criticou a exclusão do Brasil e cobrou o uso de mecanismos jurídicos e diplomáticos para garantir o direito à saúde.
“O fim da aids está próximo, e temos uma chance única de trazer o medicação para o SUS no Brasil. O medicamento revolucionário se chama Lenacapavir, que é injetável e pode ser dado apenas duas vezes ao ano para prevenir o HIV. Os testes mostraram eficácia de mais de 95%, chegando a quase 100% em alguns grupos. Mais eficaz do que a PrEP oral. Pense nesse potencial, gente. A PrEP oral diária já reduziu os casos de HIV em São Paulo em 54%, ou seja, pela metade, e é usada por milhões. Mas exige uma rotina diária difícil para muitos. Já o Lenacapavir, além de mais eficaz, resolve esse obstáculo. É uma ferramenta poderosa para pessoas em situação de rua, trabalhadores sexuais e para a população em geral.
O que nós estamos falando aqui não é só sobre avanço médico, é sobre uma ferramenta de equidade. Mas trazer essa medicação para o SUS no Brasil tem um grande obstáculo, preço. Nos países ricos, custa mais de 40 mil dólares por pessoa por ano. Com esse preço é impossível combater uma pandemia. A dona da patente excluiu o Brasil do seu acordo de licenciamento para produção de versões genéricas mais baratas.
Na minha opinião, isso é injusto e viola princípios éticos, pois o Brasil participou dos testes clínicos. É inaceitável que brasileiros tenham servido como cobaias para o medicamento, que pode agora ser negado. A gente não pode deixar essa revolução médica virar privilégio de poucos. Por isso, estamos cobrando, estamos exigindo do governo federal brasileiro que participe firme das negociações por preços justos. E se necessário, que use as ferramentas, os mecanismos jurídicos. Temos que pressionar, galera. Bora pressionar para que o Brasil seja incluído no licenciamento genérico.
A saúde pública tem que estar acima dos lucros de empresas privadas. Essa não é apenas uma questão de medicamento, é uma questão civilizatória. Garantir que a promessa do fim da aids se concretize para todas as pessoas é a chance de acabar com a aids. Não podemos perder.”
Lenacapavir: o que é e por que é considerado uma revolução na prevenção ao HIV
O lenacapavir é um antirretroviral injetável de longa duração, pertencente à classe dos inibidores da cápside do HIV. Ele pode ser administrado apenas duas vezes por ano para fins de profilaxia pré-exposição (PrEP), representando um avanço significativo em relação à PrEP oral diária, atualmente oferecida no Sistema Único de Saúde (SUS).
A nova tecnologia foi avaliada em diversos ensaios clínicos, com destaque para o estudo PURPOSE 1, realizado em países africanos com mulheres cisgênero em risco elevado de infecção. Os resultados demonstraram eficácia superior a 95% na prevenção do HIV, com proteção quase total em determinados subgrupos. Novos estudos, como o PURPOSE 2, ainda em andamento, incluem populações-chave como homens que fazem sexo com homens, pessoas trans e não binárias — com participação de centros brasileiros nos testes.
A cobrança da deputada Duda Salabert ecoa um sentimento amplamente compartilhado por profissionais da saúde, ativistas e pessoas vivendo com HIV/aids: o acesso à prevenção de última geração não pode ser privilégio de países ricos.
