HIV em pauta

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Conheça a história de Rafael Roller, jovem vivendo com HIV que usa a escrita e a internet como ferramentas de conscientização e empoderamento

Genilson Coutinho,
10/01/2023 | 13h01
Foto: Divulgação

Produtor audiovisual, designer, além de escritor e DJ, Rafael Roller usa as redes sociais para divulgar informações sobre HIV. Um jovem excêntrico e de múltiplos talentos, sua personalidade que está longe de se adequar às caixinhas sociais, ao mesmo tempo detém uma sensibilidade única. Em entrevista à Agência Aids, ele contou que o conhecimento acerca de seu diagnóstico positivo para o HIV veio em fevereiro de 2021. Na época, pouco informado sobre a pauta da aids,  enfrentou um período turbulento de muita ansiedade enquanto aguardava o resultado de seus exames.

Quando enfim se deparou com o temido resultado positivo, entrou em pânico, somado a desinformação isso se agravou. Rafael destacou que uma das principais questões que tinha absoluto desconhecimento era a necessidade de realizar testagem periodicamente para todas as ISTs. Em razão destes longos períodos sem testes, seu quadro já estava num nível muito avançado e sua saúde fragilizada.

“Tive um diagnóstico tardio, já estava com uma carga viral alta e com os níveis de CD4 mais baixos’’, relembrou.

Ao falar sobre, o entrevistado enfatizou que as pessoas em geral não têm o hábito de realizar os exames e incentivou a testagem. “Às vezes a gente acha que porque estamos em um relacionamento monogâmico não é necessário fazer teste, ou porque não me relacionei com mais ninguém desde o último teste”, exemplificou.

Hoje, o jovem considera falar publicamente acerca de sua sorologia um ato de resistência, empoderamento e fortalecimento, não só pessoal, mas também coletivo. “Jogar no ventilador foi uma forma de me empoderar”. Rafael ainda disse que contou com a sorte de ter uma essencial rede de apoio: sua família e amigos.

“Me senti muito acolhido, de repente não importava mais que outras pessoas soubessem, pois quem mais importava estava do meu lado me apoiando e me acolhendo, e foi quando comecei a falar sobre isso nas redes.”

Segundo ele, a força de compartilhar sua vigência positiva, parte de duas principais motivações: tentar conscientizar as pessoas minimamente, nem que seja somente na minha bola; e de uma questão pessoal de querer se autoproteger.

“Me abrir sobre o meu diagnóstico me proporcionou muitas coisas positivas, claro que cada pessoa tem que sentir que é o momento, decidir se quer de fato contar que vive com HIV, pois ninguém é obrigado tornar público seu diagnóstico e cada um sabe o que melhor para si, mas no meu caso falar sobre me trouxe muitas coisas boas. Eu sigo demonstrando essa força mesmo que muitas vezes isso seja uma fachada de proteção.”

Rafael pode conhecer outras várias pessoas que vivem e convivem com o vírus quando ingressou na ONG GIV (Grupo de Incentivo a Vida), uma instituição que desde 1990 se dedica integralmente a ajudar pessoas com sorologia positiva para o HIV.

“Conheci pessoas que tiverem entre a vida e a morte, pessoas que já nasceram com HIV e hoje estão na luta para viver e encontrar seu lugar no mundo… Cada história me ajudou a resignificar meu próprio diagnóstico e me engajar mais socialmente.”

Foi através daí que Rafael Roller também consegui participar da escrita de dois livros como coautor. Sua primeira obra ’’Poéticas de vida – Escritas de si(da)’’, escrita no final do ano passado, foi lançada esse ano.

O segundo livro, ainda em processo de escrita junto a uma autora também vivendo com HIV, chama-se “Tudo que Deixei de Dizer em Voz Alta”. “Não sei se teria chegado a fazer tudo isso se eu tivesse me fechado”, falou.

Esse processo de se abrir a respeito de seu diagnostico, Rafael considera que foi como mais uma saída de armário para si, anteriormente já havia saído do armário enquanto bissexual e não monogâmico. ”Tenho uma sensação de alivio”, finalizou.

Fonte: Agência AIDS