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Flávia Hill
Tomar café da manhã na padaria, principalmente naqueles dias em que a preguiça pode se esticar e fazer dele mais demorados, é um costume para muitos paulistanos. Casais recém-acordados e famílias com seus cachorros se unem ao pessoal que volta da balada depois que o sol manda seus primeiros raios no dia que se inicia. Nada neste cenário é considerado incomum. A não ser que este casal seja homossexual, esteja em companhia de alguém(ns) com preconceito, em uma padaria que não sabe lidar com a situação e cometa um assédio moral para “selar” a situação. Tudo acabaria aí se não fossem as redes sociais e seu poder pulverizador de dar voz às minorias.
De acordo com o relato, tudo começou na sexta-feira, 23, quando a jornalista e atriz, Tatit Brandão e sua companheira, a psicóloga Laura M Baruffaldi, entre risadas e carinhos tomavam seu café da manhã na padaria Delícia de Perdizes, no bairro de Pompeia em São Paulo. Foi quando uma das funcionárias corta o momento para pedir que a atitude fosse interrompida: “Olha, dois clientes já foram reclamar com o gerente o incômodo que vocês estão causando. Um deles, um senhor que estava com o filho e foi questionar que tipo de ambiente a padaria, que deveria ser um “ambiente familiar”, nesse momento está proporcionando. Então, eu peço a delicadeza de vocês serem discretas…”
Ao perceber a dificuldade na fala da colaboradora, a segunda (nenhum pouco agradável) surpresa do casal veio diante do prosseguimento do discurso: “Não é preconceito por vocês serem assim, nem nada, me desculpa, não é por mal, eu também sou gay e faz tempo, desde os meus 11 anos. Tem alguns lugares que eu me sinto bem à vontade… no Vermont, na República, no Arouche… mas é que lugares como aqui é bem complicado… Sabe? Meninas, me desculpem mesmo, a padaria quer receber e agradar todo mundo, o gerente pediu pra eu vir aqui falar com vocês porque ele sabe que eu sou gay e aqui nunca sofri nenhum preconceito em relação a isso, eles me aceitam normal…”
Tatit, então pediu para que ela explicasse o que estava pedindo. No relato, a atriz aponta que a moça tentou falar mas, “continuou se embananando mais ainda, se emocionou, pediu desculpas e saiu da nossa frente chorando em direção ao banheiro. A cena se repetiu pelo menos outras duas vezes, enquanto o casal permanecia paralisado. “Incrédulas com o tamanho do horror a que NÓS TRÊS estávamos sendo submetidas”.
Brandão é pontual: “Sofrer homofobia já é um horror sem fim. Sofrer homofobia e ao mesmo tempo presenciar um assédio moral descarado entre chefe-empregada sendo que a empregada sofre o mesmo tipo de opressão que você, é um horror elevado à enésima potência. A funcionária recebendo uma ordem do chefe não está em posição de argumentar, nem discutir, nem se negar a nada, ainda que a ordem seja oprimir pessoas iguais a ela, e a si mesma”….”Um verdadeiro assalto ao sabor do amor” finaliza Brandão.
O post recebeu 5.100 reações (a extrema maioria negativa), 965 compartilhamentos e 724 comentários. A padaria, por sua vez, respondeu à situação em sua página do Facebook, mas esqueceu-se de incluir a funcionária no pedido de desculpa (só indicou que a culpa não era dela). Em um parágrafo, a marca relatou a vontade de se retratar publicamente por ter feito ambas passarem uma situação degradante ao se sentirem erradas por demonstrarem o que sentem uma à outra. E que a culpa não é da funcionária ou de quem se sentiu incomodado, mas da própria padaria. Confira:
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