‘Bicha caricata’: uma reflexão sobre os desdobramentos do BBB23
Por Roberto Ney Araújo
O participante @frednicacio fez um comentário extremamente reducionista e estigmatizante sobre o participante @brunornogueira , comparando-o ao @gildovigor e classificando-o como uma “bicha caricata e engraçada, que gera entretenimento “.
Antes de mais nada, é necessário analisar que Fred é um homem gay que atende a um estereótipo hiperssexualizado e também estigmatizado. É um homem negro que tem suas pautas atravessadas pelo enquadramento normativo ancorado na busca pelo corpo padrão, no trânsito e na passabilidade entre a branquitude e na negação ao feminino.
Apesar de sofrer na pele todos os estigmas de ser um homem preto e gay, mesmo com os seus atuais privilégios sociais por ter se tornado médico e famoso, Fred esbarra nessa necessidade de autoafirmação que faz com que muitos homens gays reproduzam essa homofobia estrutural.
Não, meu caro Fred. Bruno não é uma bicha caricata e engraçada. Bruno é um homem gay que tem um comportamento distanciado dos padrões hegemônicos de masculinidade e, justamente por isso, sofre pelos julgamentos de uma sociedade estruturalmente misógina e de masculinidades construídas sobre o ódio ao feminino.
A caricatura está na perspectiva de quem faz a leitura. E discursos como o de Fred Nicacio, reforçam o estereótipo de que homens gays afeminados não servem para relacionamento, não merecem afeto e, apenas, servem para a diversão e o riso dos outros.
O discurso de Fred se parece muito com aquela máxima homofóbica de que “o filho do vizinho é bicha, o meu filho é gay”. Ou ” ele pode até ser gay, só não precisa exagerar”.
Enfim, espero que essas reflexões colaborem para a construção de novas perspectivas sobre a forma como entendemos o gênero e a sexualidade. E, sobretudo, que colaborem para que outros homens gays, e o próprio Fred Nicacio, reflitam sobre a reprodução de discursos que reforçam estereótipos opressores, violentos e reducionistas.
Roberto Ney Araújo é jurista e pesquisador .