Ativistas e médicos reagem ao corte de verbas do governo Trump para pesquisas de vacina contra o HIV
O governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, decidiu encerrar abruptamente um dos programas mais importantes e promissores na busca por uma vacina contra o HIV. Com um orçamento total de US$ 258 milhões, a iniciativa financiava pesquisas coordenadas pela Universidade Duke e pelo Instituto de Pesquisa Scripps, com apoio de dezenas de parceiros científicos.
A medida, comunicada nesta sexta-feira (31) pelos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), representa um duro retrocesso na luta contra o HIV e levanta críticas da comunidade científica internacional. Especialistas alertam que o fim do programa pode atrasar significativamente os avanços no desenvolvimento de uma vacina, num momento em que o mundo ainda enfrenta os desafios persistentes da epidemia.
A Agência Aids ouviu médicos e ativistas que, com tristeza e indignação, reagiram ao último anúncio feito pelo governo Trump. Confira o depoimento de cada um:
Dr. Álvaro Costa – Médico infectologista no Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids do Estado de São Paulo
“A gente tem um duro golpe na busca de uma vacina preventiva para o HIV. A existência de uma vacina preventiva ajudaria definitivamente na busca pelo controle da epidemia, uma das metas da OMS para o controle do HIV. Isso serve de alerta para que a gente busque novas parcerias e outros países no pioneirismo e no protagonismo da busca de vacinas. Depender do financiamento de um único país para a busca de tecnologias é uma grande ameaça à ciência do HIV.”

Javier Angonoa – Ativista; Diretor da Associação Motirô BA; Ex-consultor da Unaids e Unicef
“Para quem trabalha com direitos humanos e acredita em um mundo cada vez mais avançado, tolerante e pautado pela convivência civilizada, a realidade se apresenta como um filme de terror que nunca acaba. A extrema-direita tem uma agenda clara: o atraso e a destruição dos avanços civilizatórios. São tempos difíceis, mas precisamos seguir lutando, denunciando e mantendo a lucidez — pois parece que a maioria já a perdeu.”

Dr. Fábio Mesquita – Secretário Municipal de Saúde do Guarujá e ex-diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde
“Mais um ataque à ciência e à tecnologia, e mais um ataque à luta global de controle da epidemia do HIV.
É lamentável imaginar que o National Institutes of Health, o NIH, que investiu tanto na luta contra o HIV em todo o mundo, que foi tão estratégico, tão fundamental, dê essa notícia para as universidades e instituições pesquisadoras, cortando os recursos para a vacina do HIV. É muito triste, mas infelizmente era de se esperar num governo de uma pessoa como Donald Trump.”

Dra. Zarifa Khoury – Médica infectologista e Doutora em Saúde Coletiva; Possui ampla experiência no combate ao HIV/AIDS
“É um absurdo o que esse homem está fazendo com todas as suas medidas. É um absurdo esse corte de verbas para vacinas de HIV. É um absurdo que um governante de uma nação tão importante destrua tanta coisa importante para nós.”

Dra. Rosana Del Bianco – Diretora de Internação no Centro de Referência e Treinamento em DST/AIDS do Estado de São Paulo
“É uma tragédia anunciada, um verdadeiro caos. Fico pensando nas mortes que teremos com Aids, principalmente no continente africano, sem a ajuda científica e monetária dos EUA. A disseminação do HIV será galopante. Sem vacina, retornaremos ao início da epidemia. Retornaremos às grandes epidemias: veja o sarampo retornando nos EUA. Isso tudo é um horror!”

Fabiana Oliveira – Membro do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP) e da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS (RNP-ES)
“Os avanços científicos recentes em relação ao HIV/Aids nos deram a esperança de tornar possível o sonho de cura, que antes era distante. Mas, sem investimento, sem políticas que garantam a manutenção financeira de pesquisas e infraestrutura, é definitivamente impossível.
Donald Trump está causando danos irreparáveis à resposta global à Aids. Há milhares de pessoas que dependem desses recursos para tratamento e para a possibilidade da cura. Os governos precisam se mobilizar, porque essa interrupção é desastrosa.”
