As narrativas e reflexões sobre o #BBB22
Penso que é importante pontuarmos questões que nos ajudem a recontar a narrativa histórica do colonizador. Mas para isso, precisamos entender que o epistemicídio é um projeto de sucessivos apagamentos, um esforço diuturno para que a gente desconheça a história.
Narrativas como a de Natália, participante do #bbb22 , são reproduzidas há séculos. Quem aqui não aprendeu na escola sobre como os portugueses chegaram aqui com presentes e conquistaram, pacificamente, nossas terras?
Essas narrativas falsas nos são contadas desde sempre. E subvertê-las é um esforço contínuo e diário. Essa moça, que traz em seu corpo diversas vulnerabilidades, reproduz um discurso médio, que romantiza a escravidão e nos traz uma perspectiva de apagamento histórico. Ela foi cooptada pelo sistema racista que tenta nos introduzir essas narrativas bizarras a todo custo.
Dito isto, meu recado é: vamos combater o discurso, problematizar essas falas, trazer o debate à tona, mas sem ofender o interlocutor que, no caso, é uma mulher preta. O melhor que fazemos é aprender a ler para ensinar aos nossos camaradas.
E estejamos atentos, pois a escolha dos participantes deixa evidente que a emissora deseja exatamente esse escárnio. Do contrário, teria diversas opções de escolhas de participantes outras que levariam ao público um debate racial coerente. Eles querem que a gente coloque uma mulher preta na berlinda, na chacota, no cancelamento. Pois é isso que dá engajamento e audiência. Mas não vamos dar o que eles querem.
*Roberto Ney Araújo é presidente da Comissão de Direito LGBTQIA+ do IBDFAM/BA.