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Anuário do Observatório da LGBTfobia no Futebol 2025 será lançado nesta quinta-feira (18)

Genilson Coutinho,
17/12/2025 | 13h12

Foto: Divulçgação

O Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQ+ apresenta, no dia 18 de dezembro de 2025, os dados Anuário do Observatório da LGBTfobia no Futebol edição 2025, que reúne e sistematiza dados referentes ao ano de 2024. O lançamento acontece durante o Seminário de Combate à LGBTfobia no Futebol, no Centro Dragão do Mar, em Fortaleza, durante o Festival da Diversidade do Ceará.
Produzido desde 2022, o Anuário consolidou-se como o principal instrumento independente de monitoramento da LGBTfobia no futebol brasileiro, articulando levantamento de dados, análise crítica, memória histórica, boas práticas institucionais e proposições de políticas públicas para o esporte.

O que o Anuário 2025 revela
A edição de 2025 apresenta um panorama atualizado da LGBTfobia no futebol brasileiro, evidenciando contradições: enquanto há avanços pontuais em ações institucionais, cursos de letramento e articulações com clubes e órgãos públicos, a violência simbólica, discursiva e estrutural contra pessoas LGBTQ+ segue presente, especialmente no futebol masculino profissional e nas redes sociais.

Entre os principais eixos abordados estão:
Episódios de LGBTfobia no futebol brasileiro
O Anuário registra episódios envolvendo torcidas, atletas, comissões técnicas, dirigentes, arbitragem e ambiente institucional, ocorridos em estádios, centros de treinamento, redes sociais e meios de comunicação. Os dados reforçam que as torcidas seguem sendo o principal agente identificado, sobretudo em manifestações online, muitas vezes naturalizadas e sem responsabilização efetiva.

Em comparação com anos anteriores, os episódios apresentam pequena redução, o que indica que campanhas pontuais e posicionamentos isolados podem ajudar, mas ainda não são suficientes para alterar a cultura do futebol brasileiro.

Julgamentos no STJD: retrocesso na transparência
Um dos pontos mais críticos da edição de 2025 é o recuo institucional do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) no que diz respeito à publicidade e ao acesso às informações. Diferente de anos anteriores, o tribunal não enviou os dados diante das solicitações formais do Observatório, e a reformulação do site tornou indisponíveis julgamentos que antes eram públicos.
Em 2024, o artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que trata de atos discriminatórios, teve 20 denúncias registradas, número ligeiramente superior ao de 2023. Dessas denúncias, nove foram por LGBTfobia, um aumento de +28,6% no número de casos (de 7 para 9). Ainda assim, o Anuário alerta que os dados são incompletos, já que o próprio STJD deixou de garantir acesso às informações, comprometendo a transparência e o controle social.

Uso do número 24 na Copinha: queda histórica
O levantamento sobre o uso da camisa número 24 na Copa São Paulo de Futebol Júnior aponta um recuo significativo em 2025, considerando os dados consolidados do torneio. Das 128 equipes participantes, apenas 32 utilizaram o número, contra 38 no ano anterior, o que representa o menor índice desde o início da série histórica, em 2022.
O dado reforça que o estigma associado ao número historicamente ligado à homofobia no futebol segue sendo reproduzido desde as categorias de base, demonstrando que o preconceito não é um desvio isolado, mas parte de uma cultura estrutural.

Posicionamento dos clubes em datas simbólicas
O Anuário também analisa o comportamento institucional dos clubes nas principais datas da agenda LGBTQ+: 17 de maio (Dia Internacional de Combate à LGBTfobia) e 28 de junho (Dia do Orgulho LGBTQ+). Em 2024, houve manutenção ou leve queda no número de clubes que se posicionam publicamente, especialmente nas Séries C e D.
O levantamento mostra que, apesar de alguns clubes manterem ações recorrentes, o engajamento ainda é desigual, concentrado em poucas instituições, e frequentemente restrito a publicações protocolares.

Mapeamento das torcidas LGBTQ+ do Brasil
A edição de 2025 atualiza o mapeamento nacional de torcidas LGBTQ+, trazendo dados sobre organização, presença nos estádios, diálogo com clubes, existência de estatuto, ações políticas e culturais. O levantamento evidencia o crescimento e a diversificação dessas torcidas, mas também revela desafios estruturais: a maioria ainda enfrenta dificuldades de reconhecimento institucional, segurança e apoio dos clubes.

Boas práticas, legislação e políticas públicas
Além do diagnóstico, o Anuário destaca boas práticas adotadas por clubes, federações, torcidas e órgãos públicos, bem como iniciativas de formação, campanhas educativas e ações articuladas com o poder público. A publicação também reúne legislação, regulamentos desportivos e experiências de seminários estaduais, como Minas Gerais e Ceará, reforçando a importância da ação integrada entre sociedade civil e Estado.

Um instrumento político, histórico e pedagógico
Mais do que um relatório, o Anuário do Observatório da LGBTfobia no Futebol é um instrumento político e pedagógico, voltado à imprensa, pesquisadores, clubes, federações, gestores públicos, torcidas e à sociedade em geral. A edição de 2025 reafirma que não há neutralidade possível diante da violência, e que enfrentar a LGBTfobia no futebol exige dados, memória, pressão institucional e políticas públicas contínuas.

Serviço
O quê: Lançamento do Anuário do Observatório da LGBTfobia no Futebol 2025 (dados de 2024)
Quando: 18 de dezembro de 2025, às 13h30
Onde: Centro Dragão do Mar – Fortaleza (CE)
Evento: Seminário de Combate à LGBTfobia no Futebol | Festival da Diversidade do Ceará
Realização: Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQ+