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Nesta segunda (29), nossa Salvador completa 472 anos de muitas histórias e todo soteropolitano tem uma para contar do Carnaval aos tradicionais baba do vinho, a cidade é um livro aberto de páginas intermináveis. E claro que a comunidade LGBT tem muitas histórias desde os tempo do GLS (gays, lésbicas e simpatizantes) e a velha expressão “Você é entendido?” usada muito para identificar se éramos gays.
É cada coisa viu minha gente, mas neste turbilhão de histórias vou compartilhar uma que evidencia muito a relação dos LGBTQIA+ com a cidade. E vou lá nos carnavais dos anos 80, especificamente na Praça Castro Alves ponto histórico dos memoráveis encontros de trio.
É lá também que nós, LGBTQIA+, ocupávamos aqueles espaços nas barracas que na época ainda não existia a apropriação dos espaços pelas cervejarias, as mesas de madeira e os bancos faziam a composição deste espaço democrático e principal ponto de encontro da comunidade no período de Carnaval, mas vale ressaltar que além da praça em si a famosa barrada Três Marias, mais famosa da época que ao longo dos anos foi o ponto de encontro de todos que sabia que ali era um lugar para nossos encontros e resenhas, além de alguns atraques, a ponto de bancos voarem aos primeiros sinais de uma briga. Entre uma cerveja gelada de garrafa de vidro e os copos plásticos ao som dos grandes encontros de trios era só alegria.
Assim os LGBTQIA+ transformaram aquele espaço nos mais diverso e igualitário. E essa alegria de sermos quem somos já causava incômodo e comentários dos passantes e frequentadores da praça, que já haviam mudando o nome da praça do poeta para praça dos “veados”. Mas esse comportamento e atitudes continuam vivas em outros espaços da cidade e diferentemente dos anos 80 que muitos de nós nos sentíamos incomodados em sermos chamados de “viados”, “sapatão” e outros adjetivos chulos não mais nos incomoda, pois temos orgulho de sermos quem somos e podem nos chamar de “viadinhos” e tantos outros adjetivos que não tomaremos como ofensa, mas cuidado, pois isso pode lhe garantir ver o sol nascer quadrado na quarta-feira feira de cinzas parafraseando a oralidade da nossa história.
Você deve está se perguntando, mas qual a relação dos LGBTQIA+ com o aniversário de Salvador? Tem tudo a ver em todos os sentidos e espaços, pois em cada pedacinho dessa grande Salvador, do Pelourinho ao Campo Grande, nós somos e também fazemos a histórias da nossa cidade.
Essa é apenas uma pincelada das muitas histórias da praça do poeta que vai além dos encontros de trios face aos babados das escadarias do Palácio dos Esportes (para quem não na sabe ali funcionou o primeiro teatro de Câmara do Brasil, mas aí já são outros causos).
Apesar de tantos nãos. Somos nós a alegria da cidade.
O meu desejo é que a DiverCidade e o respeito sejam diário!
Genilson Coutinho é editor-chefe do Dois Terços e ativista LGBTQIA+.