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‘Estava cansado de me esconder’, diz Jason Collins após assumir sua orientação sexual

Genilson Coutinho,
26/10/2015 | 14h10

Jason Collins (Foto: AFP)

Em abril de 2013, o ex-pivô jogador americano Jason Collins se tornou o primeiro atleta a assumir sua homossexualidade, o que aconteceu através de um artigo publicado no site da revista Sports Illustrated. Em visita ao Brasil na última quinta-feira (22), Collins visitou escolas públicas e instituições do Rio, além de fazer algumas palestras. Em entrevista ao site Dois Terços, ele falou sobre preconceitos, sonhos e conquistas. E, principalmente, falou que não se arrepende de ter assumido sua sexualidade. Confira a entrevista na íntegra.

Dois Terços – Você e a jogadora Chiney Ogwumike estarão no Brasil para participar do programa “Sports Envoys”, desenvolvido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos em escolas públicas e instituições do Rio, que apoiam o esporte olímpico e paraolímpico. Qual mensagem você traz para esses jovens que sonham com o pódio e a melhoria de vida por meio do esporte?

Jason CollinsA minha mensagem para aqueles que almejam seguir uma carreira nos esportes é trabalhar duro, sempre tirar suas dúvidas, aprender com aqueles que já fizeram isso antes de você e se divertir!

DT – A falta de patrocínio tem deixado muitos jovens sem esperança no sonho de se tornarem grandes atletas. Como lidar com essa falta de dinheiro para seguir em frente?

JC – Nas universidades dos Estados Unidos, existem programas de bolsas de estudo disponíveis, que foi o que me proporcionou a oportunidade de competir e ser um atleta profissional. Então, talvez este seja um bom objetivo: buscar bolsas de estudo. Acampamentos e clínicas esportivas, como as promovidas pela NBA no Brasil, e ser visto ou estar sempre em contato com pessoas que recrutam atletas também são boas alternativas para conseguir bolsas de estudo que auxiliem a realizar seu sonho.

Sem preconceito: Jason Collins, ex-NBA, primeiro jogador de uma grande liga americana a ter-se declarado gay, e Chiney Ogwumike, da WNBA – Ana Andrade/Divulgação/Universidade Estácio de Sá

DT – Em 2013, ao assumir sua orientação sexual, você abriu uma grande discussão sobre o preconceito no meio esportivo. O que o motivou a se declarar publicamente?

JCO que me motivou a tornar esta decisão pública foi que eu alcancei um estágio em minha vida no qual eu estava cansado de me esconder. Cada vez que eu entrava para um novo time, eu tinha que compartilhar um pouco sobre mim e já me sentia cansado de mentiras. Eu contei para minha família e amigos que eu queria parar de fingir viver outra vida, então eu cheguei a um ponto em que eu queria contar a verdade, viver minha verdadeira vida, para que eu não tivesse que esconder quem eu autenticamente era. Minha vida tem sido exponencialmente melhor desde então.

DT – Você enviou uma carta à revista “Sports Illustrated”, onde afirmou o seu orgulho de ter quebrado um tabu ao assumir sua orientação sexual. Conte-nos um pouco sobre esse momento.

JCNo artigo publicado pela Sports Illustrated, eu queria ser aquele a contar minha própria história. Eu não queria outro alguém escrevendo um artigo sobre mim. Eu queria ser o único a tornar isso público. A Sports Illustrated me permitiu isso e eu sou imensamente grato por essa oportunidade. É empoderador quando você consegue dizer ao mundo, em suas próprias condições: “Essa é minha verdadeira vida, essa é minha história!”. As pessoas podem sempre voltar e ler sobre isso. Foi um momento muito surreal, principalmente em relação às respostas. Imediatamente recebi ligações do Presidente Obama, Oprah Winfrey e Ellen DeGeneres e a lista continua. Isso realmente mostra que estamos todos juntos nessa, seja você gay ou hétero. É uma questão de aceitação e direitos iguais para todos.

Jason Collins (Foto: Divulgação)

DT – Já faz mais de 2 anos que você tomou coragem pra encarar o preconceito e a rejeição dos homofóbicos. Você faria tudo outra vez?

JCAbsolutamente sim! (risos) Faria tudo de novo sem hesitar.

DT – O que você diria para os jovens gays que vivem dentro do armário?

JC – Primeiramente, eu sei como é viver sob essa pressão todos os dias, andar por aí e sentir um peso enorme nas costas. Parece que hoje vai ser o dia em que seus entes queridos, colegas de trabalho, pessoas no seu cotidiano irão perceber, suspeitar e perguntar sobre sua orientação sexual. E não há nada melhor do que viver em verdade consigo mesmo e tornar isso público da maneira que achar mais confortável. Existe uma grande comunidade de pessoas, gays e héteros, que está esperando para te aceitar e te encorajar a viver uma vida de verdade.

DT – O preconceito e a homofobia estão em toda parte, inclusive dentro da própria família. Qual mensagem você deixaria para as famílias que colocam seus filhos para fora de casa ao descobrirem que eles são gays?

JCQuando se rejeita alguém, por vezes, pode ser por receio de mudanças ou por questões religiosas. Quaisquer que sejam as razões, de um ponto de vista familiar, independente de religião, aceite seu irmão, filha, irmã, filho ou filho, pai ou mãe por quem eles verdadeiramente são. Muitas religiões pregam sobre amor e aceitação e esse deveria ser o foco: amor e aceitação. É apenas isso que se espera. E para a pessoa que está falando pela primeira vez sobre sua orientação sexual, saiba que na vida existe família que você tem e a família que você escolhe. Por vezes você irá conhecer pessoas que pensam da mesma forma que você, que podem começar como estranhos e terminar mais próximos que seus familiares, e essas são as pessoas que você irá almejar se aproximar. Você vai querer se cercar de amor, aceitação e apoio.