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“Eu Escolho Vermelho”: mobilização do MNCP convoca sociedade a romper o estigma no Dezembro Vermelho

Genilson Coutinho,
26/11/2025 | 18h11

Em meio à invisibilidade crescente da Aids no Brasil, mulheres do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas lançam campanha que usa depoimentos em vídeo para despertar solidariedade e reacender o debate público sobre prevenção e direitos.

Às vésperas do 1º de dezembro, o Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP) decidiu ampliar o alcance da luta contra o estigma e a discriminação envolvendo o HIV. Com a campanha “Eu Escolho Vermelho”, a proposta é simples: convidar pessoas de todos os lugares — vivendo ou não com HIV — a gravarem pequenos vídeos vestindo uma peça vermelha de roupa e dizendo por que escolhem essa cor. O gesto simbólico, segundo o movimento, pretende romper barreiras, enfrentar o preconceito e chamar atenção para a necessidade urgente de manter a prevenção e o cuidado presentes no cotidiano das políticas públicas.

Uma ideia que nasce da urgência

Neste Dezembro Vermelho, o MNCP quis ir além do tradicional. A campanha surgiu diante de um cenário que preocupa: a perda de visibilidade da Aids nos municípios e a persistência do estigma que ainda impede pessoas de testarem, iniciarem tratamento ou viverem plenamente.

Como explicou Fabiana de Oliveira, liderança do movimento, “todo ano no Dezembro Vermelho são realizadas ações para alertar sobre a prevenção ao HIV/Aids e outras infecções e, assim como outras organizações e governos, o MNCP também produz materiais publicitários com foco na mulher.”

Ela destaca, no entanto, que o contexto atual exigia outro caminho.

“Observamos uma perigosa invisibilidade da Aids nos municípios, que pode impactar tanto as ações de prevenção quanto a qualidade da assistência. E ainda existe uma insistente presença do estigma e da discriminação.”

Foi dessa percepção que nasceu a ideia de mobilizar não apenas pessoas vivendo com HIV, mas também quem está ao redor delas.

“Queríamos deixar de falar apenas de nós para nós. Então pensamos em envolver familiares, amigos, profissionais da saúde, pessoas comuns, de diferentes grupos, que não vivem com HIV, mas de alguma forma abraçam ou são solidárias à causa.”

Segundo ela, o objetivo era simples e profundo: usar a voz e a imagem das pessoas para reacender o debate sobre o HIV e lembrar que o combate ao preconceito depende de toda a sociedade.

Um convite para se posicionar

A participação é aberta e acessível, como Fabiana explica:

“A pessoa tem que vestir algo vermelho — uma camiseta, um boné, uma fita no braço — e gravar um pequeno vídeo dizendo a frase ‘Eu escolho vermelho’, complementando com o motivo pelo qual escolhe essa cor.”

Fabiana diz que cada pessoa pode completar a frase como sentir no coração, seja em solidariedade às pessoas vivendo com HIV, em protesto contra o estigma ou em defesa dos direitos humanos. O tom, portanto, é totalmente livre.

A campanha rapidamente começou a ganhar corpo.

“Já estamos recebendo vídeos não apenas de pessoas que vivem com HIV, mas de gestores, profissionais da saúde, pesquisadores e líderes de movimentos sociais.”

Os depoimentos têm chegado em diferentes formatos e intensidades.

“Tem vídeos com relatos pessoais, outros com mensagens mais políticas e de indignação diante dos desafios enfrentados todos os dias por pessoas com HIV. São falas que estimulam atitudes e ações que resultem em transformações reais no cotidiano social.”

Os vídeos podem ser enviados no e-mail da secretaria do MNCP até o dia 30/11 (domingo):

secretarianacionalmncp@gmail.com

O protagonismo das mulheres

No centro de toda essa mobilização, estão as mulheres. O MNCP nasceu e se mantém a partir delas, e a campanha reforça essa presença histórica.

Fabiana lembra que “as mulheres que vivem com HIV/Aids desempenham um papel fundamental na conscientização, prevenção e quebra do estigma. São elas as principais cuidadoras e gestoras da saúde nas famílias.”

Além disso, têm assumido posições decisivas na luta por direitos.

“Essas mulheres ativistas desempenham um papel vital na defesa de políticas públicas de saúde mais eficazes e acessíveis, garantindo que os programas de prevenção e tratamento atendam às realidades vividas por elas e por outros grupos vulnerabilizados.”

Ainda assim, o movimento reforça que gravar o vídeo não é uma exigência.

“Respeitamos a individualidade, o momento e o desejo de não expressar sorologia. Qualquer pessoa pode enviar seu vídeo, vivendo ou não com HIV.”

A mensagem para o 1º de dezembro

Para Fabiana, o recado deste ano é direto e necessário.

“As barreiras causadas pelo estigma e pela discriminação precisam ser quebradas. E isso só será possível com mão na mão, unidas pela solidariedade e pelo respeito aos direitos humanos.”

O gesto de vestir vermelho, para o MNCP, é menos sobre uma peça de roupa e mais sobre assumir uma posição pública, ainda que simbólica, contra a discriminação.

Uma agenda intensa na primeira semana de dezembro

Além da campanha, Fabiana informou que o MNCP estará envolvido em diversas atividades pelo país.

“As lideranças do movimento estarão em simpósios, na entrega de certificações de eliminação da transmissão vertical do HIV, reuniões com gestores do Brasil e ações locais.”

É uma agenda que, segundo Fabiana, reafirma o compromisso do movimento com políticas públicas, prevenção e defesa de direitos, sempre com o protagonismo das mulheres vivendo com HIV no centro das articulações.