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O adeus à Jacqueline Brasil, pioneira na luta por direitos de pessoas trans e referência na militância LGBT+ no Rio Grande do Norte

Genilson Coutinho,
25/06/2025 | 23h06

A militância LGBT+ do Brasil perdeu, nesta terça-feira (24), uma de suas maiores referências: Jacqueline Brasil. Aos que conviviam com ela, fica a dor de perder não apenas uma ativista incansável, mas uma amiga querida, sensível e espiritualmente conectada à natureza e à ancestralidade.

Moradora de Natal (RN), Jaqueline foi pioneira nas lutas por cidadania de pessoas travestis e transexuais no estado e em todo o país. Sargenta da Marinha, viveu sua transição de gênero ainda no ambiente militar, desafiando as estruturas de preconceito com coragem e determinação. Sua trajetória foi marcada pelo enfrentamento e também pela construção: ajudou a fundar e fortalecer coletivos como a RedeTrans Brasil, a ANTRA, a RNTTHP, o Fórum LGBT Potiguar, o Fonatrans e a Articulação Aids do RN, além de ter contribuído com o movimento nacional de pessoas vivendo com HIV (RNP+ Brasil).

Sua atuação política e comunitária foi fundamental para a criação do programa estadual Transcidadania, e durante a pandemia, por iniciativa própria, manteve a Casa Brasil, espaço de acolhimento para pessoas trans em situação de vulnerabilidade — gesto que salvou vidas e reforçou sua dedicação ao cuidado coletivo.

Sua morte, ocorrida em pleno mês do orgulho LGBT+, carrega um simbolismo profundo. “A sua luta sempre foi a sua vida. E eu tenho muito orgulho da oportunidade de estar ao seu lado em tantas trincheiras”, lamenta Natália Bonavides, deputada federal pelo PT do RN, que prestou homenagem à ativista nas redes sociais. “Deixo um grande abraço a todas as pessoas que sentem a passagem de Jacqueline.”

Em meio às homenagens, mensagens emocionadas destacaram sua ligação com a espiritualidade celta, celebrando sua passagem como um renascimento para a “terra da juventude eterna”, como escreveram amigos e companheiros de caminhada. “Perder a amiga por trás da ativista é o que doerá mais, hoje e futuramente…”, declarou um companheiro de luta. “Sua essência habitará eternamente dentro de nós.”

A RedeTrans Brasil, a ANTRA, a ABGLT, o Fórum LGBT Potiguar e diversas organizações do movimento de enfrentamento ao HIV/aids lamentaram profundamente a perda. Jacqueline deixa um legado de coragem, acolhimento e transformação.

Seu nome ecoará nas lutas futuras, como símbolo de resistência e de amor ao próximo. Como ela mesma ensinou: a luta é feita com o corpo, com a mente e com o espírito. E a militância de Jacqueline Brasil jamais será esquecida.

DA Agencia AIDS