EternamenteSOU: visibilidade, cuidado e afeto para as velhices LGBT+
Em um país ainda marcado por violências contra pessoas LGBTQIA+, envelhecer com dignidade é um privilégio negado a muitos. Essa realidade se torna ainda mais urgente de ser debatida em maio, mês em que se celebra o Dia Internacional de Enfrentamento à LGBTfobia (17 de maio) — data que marca a retirada da homossexualidade da lista de doenças da Organização Mundial da Saúde e que convida a sociedade a refletir sobre as diversas formas de exclusão, estigma e discriminação que ainda afetam a população LGBTQIA+.
Neste contexto, a Agência Aids lança uma série especial de reportagens que destacam iniciativas que promovem cuidado, visibilidade e direitos para pessoas LGBTQIA+ em todas as fases da vida. E entre essas experiências inspiradoras está a ONG EternamenteSOU, que atua na cidade de São Paulo com foco nas velhices LGBT+, um grupo historicamente invisibilizado nas políticas públicas e nos debates sobre diversidade.
Fundada em 2017, a EternamenteSOU nasceu com o compromisso de garantir acolhimento, saúde mental, geração de renda e fortalecimento comunitário para pessoas LGBTQIA+ com mais de 50 anos. A organização oferece um espaço de resistência, afeto e cidadania, onde essas pessoas podem compartilhar histórias, reafirmar identidades e envelhecer com dignidade.

“A velhice LGBT+ é ainda muito invisibilizada. Queremos garantir que essa população não apenas sobreviva, mas que possa viver com plenitude, afeto e autonomia”, afirma a presidenta da ONG, Dora Cudgnola. Ela reforça: “Todos nós envelhecemos, e a natureza do processo de envelhecimento é dinâmica e heterogênea”.
Dora explica que falar sobre velhices LGBT+ ainda é um tabu no Brasil, frequentemente atravessado pela solidão e pela perda de confiança. “Existe muito tabu na velhice, e principalmente na nossa comunidade LGBTQIAPN+, ficamos mais vulneráveis”, diz ela.
Além do preconceito etário, as pessoas LGBT+ idosas enfrentam violências físicas, psicológicas e sociais, muitas vezes sem apoio familiar ou comunitário. “Toda pessoa que envelhece pode ser alvo de idadismo. Isso se torna um instrumento de exclusão social e leva à solidão”, observa Dora.
A situação se agrava quando o envelhecimento é atravessado por outras formas de opressão, como o racismo, o capacitismo e a sorofobia. “A presença de pessoas idosas negras ainda gera estranhamento, reflexo das discriminações acumuladas ao longo da vida. Isso resulta em adoecimentos físicos, mentais e emocionais”, explica.
A resposta da EternamenteSOU é a construção de uma rede de acolhimento, com atendimentos psicológicos, apoio jurídico, assistência social e atividades culturais que promovem bem-estar e pertencimento. “O acolhimento é sempre com carinho e amor”, resume Dora.

Entre os principais projetos estão oficinas semanais, realizadas de terça a quinta-feira, das 14h às 18h, na sede da ONG. As atividades incluem: Facilitador de Emoções, Teatro e Expressões Corporais, Pilates, Música e Canto Coral, Roda de Conversa e Inclusão Digital (projeto Conectades). Além disso, mensalmente, são realizadas o Café e Memórias e o Cine ESOU. Essas ações são viabilizadas com o apoio de emendas parlamentares, que garantem recursos para a continuidade do trabalho.
Durante a semana de luta contra a LGBTfobia, reconhecer a importância de projetos como a EternamenteSOU é também um convite à sociedade: como estamos cuidando de quem abriu caminho para que hoje possamos viver com mais liberdade?
Muitas das pessoas atendidas pela ONG enfrentaram períodos de repressão, como a ditadura militar, a epidemia de HIV/aids nos anos 1980 e o preconceito institucional. Hoje, continuam reivindicando o direito de existir com dignidade, memória e alegria.

Porque lutar contra a LGBTfobia é também garantir cuidado, afeto e pertencimento em todas as fases da vida.
Site: https://www.esou.org/
Tel.: (11) 3151-5443