Afoxé Filhos de Gandhy veta participação de homens trans no desfile carnavalesco
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O Afoxé Filhos de Gandhy surpreendeu seus associados com um comunicado inusitado. Junto com os itens de fantasia para o desfile de 2025, foi informado que apenas pessoas do sexo masculino cisgênero poderão integrar o bloco. Segundo o comunicado, “de acordo com o artigo 5º do Estatuto Social, só poderão ingressar na Associação pessoas do sexo masculino cisgênero. Por isso, a venda do passaporte será restrita a esse público.”
O Dois Terços recebeu diversas denúncias da comunidade LGBTQIA+ e entrou em contato com o presidente da Associação Afoxé Filhos de Gandhy que, em resposta, afirmou que “não tinha nada a declarar” e que a matéria poderia ser publicada, já que não haverá nenhuma alteração no comunicado. Vale lembrar que essa postura, da referida Associação, exclui homens trans do desfile, caracterizando uma atitude transfóbica.
Para o cantor Vércio, professor e pesquisador da UNEB adianta eles vierem com essa história de tradição, pois nos primórdios, era um bloco de pretos e foi passando a associar homens brancos. Ou seja, um caso explícito de transfobia gratuita.
“Chama a atenção, em pleno 2025, uma associação como Filhos de Gandhi tomar uma atitude como essa, comunicando aos associados que está proibido o repasse da fantasia para ‘homens transgêneros’, pois precisam prezar pela tradição. Aí, eu não tenho como não remontar ao início da história desse bloco, que nasce para combater o discurso racista da aristocracia baiana, que faziam circular informações que colocavam pessoas negras como baderneiras e perturbadoras da paz. Ou seja, a partir das imagens de Gandhi e de Oxalá, o bloco vem pregando mensagem de paz. Logicamente, a história também traz situações de assédio, beijo forçado, como tradição desse mesmo bloco, que agora se mostra transfóbico. Com um adendo: a transfobia do bloco atinge o corpo com vagina, pois andei sabendo que pessoas não-binárias e até travesti têm desfilado no bloco, além da população gay, que há algum tempo tem protagonizado a presença na agremiação. Eles não me venham com discurso de tradição, pois, nós primórdios, era um bloco de pretos e foi passando a associar homens brancos. Ou seja, um caso explícito de transfobia gratuita”.
Bruno Santana – professor, pesquisador, especialista em gênero, diversidade e direitos humanos e transativista pelos coletivos transbatukada e Fórum Trans Bahia, falou ao Dois Terços sobre o ocorrido.
“O Bloco Filhos de Ghandy precisa se retratar e assumir sua responsabilidade diante da transfobia cometida contra homens trans e pessoas transmasculinas. É inaceitável que um grupo que diz lutar por justiça social e igualdade perpetue a exclusão e a violência contra uma parcela da comunidade que já sofre com a marginalização e a invisibilidade. Homens trans e pessoas transmasculinas são homens, e precisam ser legitimados em sua identidade.
Essa atitude não é apenas um retrocesso, mas uma violação aos direitos humanos. É incompatível com os ideais de justiça social e equidade que o bloco diz acreditar. Transfobia é crime e não há justificativas diante desse fato”. Disse Santana.