HIV em pauta

Por que a batalha contra o HIV e a aids tem sido mais lenta?

Genilson Coutinho,
26/11/2024 | 13h11
Foto: Divulgação

Redução global nas infecções e mortes, prevenção e tratamento eficaz: a luta contra o HIV e a aids avançou consideravelmente nas últimas décadas, mas o fim da epidemia continua sendo uma meta distante.

As infecções pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) caíram para o nível mais baixo de todos os tempos, estimadas entre 1 milhão e 1,7 milhão em 2023, de acordo com o relatório anual divulgado nesta terça-feira pelo programa conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids).

Durante a década de 2010, o número de novas infecções caiu em um quinto em todo o mundo, de acordo com uma análise publicada na revista científica The Lancet HIV. As mortes, geralmente causadas por infecções oportunistas quando o HIV evolui para a aids, caíram cerca de 40%, chegando a um patamar significativamente abaixo de um milhão por ano.

Essa tendência se deve principalmente graças a uma melhora acentuada na África Subsaariana, região do mundo mais afetada pela epidemia de aids. No entanto, o cenário continua desigual, com o aumento de infecções em outras regiões, como no Oriente Médio e no Leste Europeu. E o mundo permanece longe das metas da ONU, que visam à erradicação quase completamente a epidemia até 2030.

Ferramentas eficazes

Um ponto em que os especialistas em HIV concordam é a importância dos tratamentos preventivos, conhecidos como PrEP (profilaxia pré-exposição), que se tornaram ferramentas cruciais na luta contra a epidemia de aids.

Esses tratamentos, que são tomados por pessoas que não estão infectadas, mas que se envolvem em comportamentos considerados de risco, são altamente eficazes na prevenção de uma infecção.

Por esse motivo, os especialistas defendem sua expansão. Na França, por exemplo, as autoridades de saúde fizeram da PrEP um ponto central de suas novas recomendações: ela não deve mais ser reservada exclusivamente para homens que fazem sexo com homens.

O Brasil tem uma das políticas mais amplas relacionadas à PrEP do mundo, tendo incluído o acesso à medicação no Sistema Único de Saúde (SUS) ainda em 2017.

E para as pessoas já infectadas, os tratamentos também estão se tornando mais eficazes e convenientes, especialmente porque precisam ser tomados com menos frequência e envolvem menos comprimidos.

Apesar do progresso, a implementação de tratamentos preventivos e curativos enfrenta inúmeros desafios. Esse é o caso dos países de baixa renda, como os do continente africano, onde o custo dos medicamentos continua sendo um problema.

Um caso polêmico gerou debate nos últimos meses. O laboratório Gilead desenvolveu um remédio, o lenacapavir, que promete uma eficácia sem precedentes tanto na prevenção quanto no tratamento do HIV. Os especialistas acreditam que ele poderia fazer uma diferença revolucionária, mas o custo é astronômico: US$ 40 mil por pessoa por ano (o equivalente a cerca de R$ 232 mil, na cotação atual).

Sob pressão dos principais grupos de combate à aids, a Gilead anunciou no início de outubro que permitiria a produção de versões genéricas de baixo custo do tratamento nos países mais pobres.

No entanto, as barreiras não são apenas financeiras, especialmente no caso de tratamentos preventivos. Também é crucial combater o estigma associado ao seu uso, em países onde, por exemplo, a homossexualidade ainda é considerada inaceitável.

“A implantação da PrEP na África enfrenta um grande desafio: fazer com que as pessoas em alto risco reconheçam que estão em risco”, resumiu um artigo da The Lancet Global Health em 2021.

O mesmo problema se aplica ao diagnóstico precoce, que é especialmente importante, pois muitas infecções são detectadas já em um estágio tardio, quando evoluíram para a Aids, dificultando o tratamento.

E quanto às vacinas?

Nenhuma vacina até agora alcançou resultados de eficácia entre humanos significativos. Mas a boa notícia é que, com as ferramentas atuais, a falta de um imunizante não é considerada o principal obstáculo.

Com a eficácia dos tratamentos preventivos, “não temos já, em essência, uma vacina?”, perguntou o especialista em doenças infecciosas Yazdan Yazdanpanah, diretor do ANRS, o instituto francês pioneiro na luta contra a aids, em uma coletiva de imprensa em outubro. Ainda assim, Yazdanpanah reconheceu que “a pesquisa de vacinas não deve parar”.

Outro desenvolvimento que não deve ser exagerado são os poucos casos de remissão observados nos últimos anos: menos de 10 no total. Embora espetaculares, eles são o resultado de transplantes de células-tronco, operações arriscadas que só são viáveis em casos muito específicos, como de pacientes com câncer.

Fonte: AFP