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Mês do Orgulho: ‘Apesar dos avanços, a população LGBTQIA+ enfrenta dificuldades no acesso à saúde’, aponta o infectologista Hilton Luís

Genilson Coutinho,
17/06/2023 | 23h06

conquista da Política Nacional de Saúde Integral LGBT+, que chegou ao país em 2011, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), foi um salto expressivo na luta do movimento LGBT+ brasileiro e possibilitou a viabilização de muitas outras políticas públicas em benefício da comunidade. Entretanto, o médico infectologista gaúcho, especialista em saúde LGBTQIA+, Dr. Hilton Luís, assegura que, apesar de dada sua devida importância, desde que foi instaurada, a portaria 2.836 não foi suficientemente capaz de sanar todas as demandas em saúde desta população, sobretudo no Brasil profundo.

Além dos problemas correntes do serviço público de saúde, parte da população brasileira composta por lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, queer, dentre outras sexualidades e identidades de gênero, encontram entraves que os distanciam da integralidade e da equidade ao acesso aos serviços de saúde, como os constrangimentos diversos que ocorrem antes, durante e após as consultas.

Quando se trata de um grupo composto por mulheres transexuais e travestis, esse problema torna-se ainda mais evidente, pois para a continuidade do acompanhamento junto ao urologista – lembrando que mesmo àquelas que optam pela transgenitalização, não retiram a próstata – é necessário que frequentem ambientes predominantemente masculinos, como as salas de espera dos consultórios médicos.

Ele celebra e enumera marcos históricos, como a retirada da homossexualidade da lista de doenças, pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), em 1985 e a recente criação da Secretaria dos Direitos das Pessoas LGBT+, sob a pasta do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania. No entanto, defende que faltam maiores esforços e vontade política por parte dos governos para que possamos, de fato, superar os desafios que persistem impedindo que pessoas LGBTs acessem serviços e desfrutem do direito integral à saúde e bem-estar.

“Já são mais de 10 anos de política e ainda colecionamos questões que não são efetivadas no dia a dia. Pessoas intersexo e pessoas trans ainda não estão totalmente contempladas mesmo após a oficialização da política”, complementou.

Segundo o especialista, em cidades maiores é possível fazer com que as ações aconteçam de forma mais sistematizada, com criação de comitês, secretarias, superintendências, mas as regiões mais pobres e aquelas mais conservadoras ainda enfrentam muitas dificuldades em articular um trabalho que seja multissetorial.

O médico ainda lamentou estarmos estagnados em algumas questões preliminares. “Estamos discutindo direito ao nome social, acesso a banheiro e com isso perdemos na reflexão e elaboração de novas questões. Pessoas LGBTs não nascem com 18 anos, precisamos pensar na saúde integral dessa população, deixando de a reduzir às ISTs/aids. Pessoas LGBTs como qualquer outras, também vão ao médico porque sentem uma dor de cabeça, porque tem uma unha encravada…”, argumentou.

O médico destacou ainda que é perceptível os problemas, principalmente em territórios onde o conservadorismo impera e a necropolítica se fortalece.

Segundo ele, para o país evoluir na efetivação do que propõe a política nacional de saúde LGBT, tanto a nível macro, incluindo novas pessoas, como também em micro espaços, naqueles locais que estas pessoas são invisíveis e ainda morrem por ser simplesmente por ser quem são, é preciso discutir a educação sexual integral desde a base com crianças e adolescentes; reconhecer que crianças e jovens LGBTs existem e precisam ser respeitados e acolhidas; fortalecer as políticas públicas já existentes; combater a necropolítica e discursos de ódio.

“Sem ações precisas e interdisciplinares, os problemas em saúde não serão solucionados e a comunidade LGBT+ não alcançará o direito à saúde plenamente.”

D Agência AIDS