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Artista baiana Laiô lança álbum autoral nesta sexta-feira (23)

Genilson Coutinho,
22/09/2022 | 14h09
Foto: Divulgação

Nesta sexta-feira (23),  chega ao mercado fonográfico uma estreia que traz na bagagem 17 anos de estrada, talento, muito suingue, um vozeirão, além de forte posicionamento crítico e social. É o álbum da baiana Laiô, que  mostra a nova fase como artista com seu primeiro trabalho autoral, batizado com o mesmo nome escolhido pela cantora, produtora e compositora do litoral sul da Bahia Laís Marques para marcar o atual momento na carreira. O lançamento acontece  em todas as plataformas de streaming pelo selo Digital Ruffo.

O projeto já chega com a chancela de ser um dos selecionados pelo “Prêmio Cultura na Palma da Mão/PABB”, da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), via Lei Aldir Blanc, redirecionada pela Secretaria Especial da Cultural do Ministério do Turismo, Governo Federal. “Laiô” é um trabalho único, que consegue ser visceral e delicado ao mesmo tempo. Carrega as ancestralidades baiana, nordestina e africana com toques de nostalgia e modernidade, numa união que reflete bem a história da artista.

Conhecida pela versatilidade em transitar com propriedade por ritmos distintos como afrobeat, forró, funk, rock e MPB, Laiô, a cantora, finca suas raízes na diversidade, com composições pautadas em temas contemporâneos, pessoais e sociais. É esse o berço das oito canções autorais que dialogam entre si com uma narrativa introspectiva, mas amplamente universal. Cartão de visita que representa bem suas origens e referências.

“Entendo que precisava aparecer, comunicar, mostrar minha verdade, fazer com que ela conseguisse chegar nas pessoas. ´Laiô´ traz o conceito de gemido, lamúria, queixa, lugar de quem laia. Ele representa bem minha obra, sempre pautada na minha verdade e no sentimento de mulher preta, lésbica, ilheense, que ama e vivencia as nuances em sociedade com o objetivo de seguir resistindo pela arte”, explica, Laiô.

Com composições fortes, o álbum é inteiramente autoral, sendo a canção “Ancestral” uma parceria da artista com Diego Schaun. Os arranjos e produção musical são de Laiô e Lukas Horus (que também faz as programações e beats) e as guitarras de Igor Cruz. As canções “Arrudeio” e “Coração” têm produção musical de Rê Freitas e Thainê Calheira respectivamente. O disco traz muito da experiência adquirida pela cantora ao longo dos anos no palco, onde se destacou por representar a região sul da Bahia no cenário nacional em diversos festivais de música pelo país

“Laiô” é um disco vivo, orgânico, que fala sobre os atravessamentos da artista enquanto mulher preta LGBTQIA+, mas não só isso. Consegue abarcar sentimentos diversos e transformá-los em poesia e força. “Acredito que a mistura transversalizada de temas como ancestralidade, autoamor, vulnerabilidade e cura dão a textura que queria ao trabalho, que inclusive sinaliza quase que um renascimento”, reforça, a compositora.

Entre as referências da artista estão nomes como Sara Tavares, Flávio Venturini, Luedj Luna, Tuyo, Pedro Pondé, Milton Nascimento, Margareth Menezes, Luciana Mello, Larissa Luz, Elza Soares, Tim Maia, Caetano, Gilberto Gil, Gal Costa, Ellen Oléria.

Faixa a faixa por Laiô

Lá em Casa – “Canção retrata o processo de separação dos meus pais. Uma história carregada de machismo, toxicidades e um ambiente bem comum na maioria dos lares. Foi um processo muito duro para minha mãe, e por isso me travei por três meses de falar sobre o assunto até que conseguir discorrer toda história em forma de canção, ressaltando a força dela e o orgulho que tenho de ser filha de uma mulher que não desiste de se reinventar. Foi como um desabafo dentro do meu processo de cura também”

Ancestral – “A busca por identidade espiritual me levou ao reconhecimento da minha ancestralidade e o entendimento da minha ligação com as águas doces em revelação do meu orixá. A canção foi uma forma de oferendar a Oxum o meu agradecimento por todos os aprendizados e conforto de seu colo”

Arrudeio – “É um registro de troca de áudios de conversas que relatam falas de pessoas próximas que me impulsionaram a não desistir do disco diante das dificuldades e cenário adverso de produzir ainda em contexto pandêmico com poucos recursos e de maneira independente”

Retinta – “Relato em forma de grito, de uma mulher preta quebrando o silêncio das violências cotidianas e silenciosas que este corpo sofre. Surgiu como recado de resistência após acúmulos de vivências e situações racistas negligenciadas pelo sistema e, também, por pessoas próximas”

Nem Sei – “Nasceu das reverberações que a pandemia trouxe. O medo do futuro, a sensação de não sair do lugar, a visita das dores não curadas, todas as feridas expostas sem perspectiva de mudança, mas um desejo latente de não desistir. É como um pedido pessoal para não se abandonar o barco”

Coração – “Também fruto da pandemia, em tempos em que as dores tomaram proporções ainda maiores que as reais, surgiu com o desejo de lavar, estancar o corte. É um lamento, o relato de um processo de fim e de todas as feridas que esse caminho trás. Relata a sensação de libertar o grito da dor, pra aliviar o peito e seguir em frente”

Por Dentro – “Todo processo de superação nos leva a lugares desconhecidos, mas nos trazem também o encontro genuíno do amor, o amor-próprio, o entendimento de que por nada vale se deixar. Entendo o surgimento dessa canção como um pedido de desculpas e ao mesmo tempo agradecimento a mim mesma por seguir. Sinto como a chegada de um reconhecimento consciente daquilo que desejo e mereço do amor”

Brisa – “Fala sobre receber um fim sem esperar, da sensação de surpresa e decepção por ver o outro desdizer tudo que sempre afirmou. É a constatação de um sentimento que foi pouco para perdurar. A composição surgiu como desabafo ritmicamente bem-humorado da constatação dos fatos”